Dois rinocerontes: as xilogravuras de Dürer e Burgkmair no contexto do Portugal Quinhentista

Abstract

Em maio de 1515, no contexto da expansão portuguesa de Quinhentos e da abertura de novas rotas marítimas para acesso aos mercados asiáticos, desembarcou em Lisboa o primeiro rinoceronte a chegar à Europa desde o tempo dos antigos romanos. O Ganda tornar-se-ia bastante famoso na época e foi representado em duas gravuras, da autoria de Albrecht Dürer e de Hans Burgkmair, executadas nesse mesmo ano. A imagem de Dürer popularizou-se rapidamente e tornou-se a referência dos compêndios de zoologia até finais do século XVIII; já a gravura de Burgkmair caiu quase no esquecimento. E, no entanto, o rinoceronte de Dürer apresenta algumas insólitas particularidades, e.g. um segundo chifre espiralado, no dorso, que tem intrigado os especialistas e foi alvo de diversas teorias e explicações. Existe igualmente um mistério no que respeita às fontes de Dürer, já que este nunca viu o rinoceronte, dele tendo tido apenas conhecimento indireto. Um mistério idêntico envolve a gravura de Burgkmair: teria tido origem no mesmo esquiço utilizado pelo colega, ou nascido de fonte diferente? Questões a que o presente artigo se propõe responder.