Assimetrias regionais de desenvolvimento e capacidade inovativa: elaboração de um modelo de desenvolvimento baseado no conceito de incorporação do progresso técnico em bens de capital

Abstract

A existência de profundas e persistentes desigualdades geográficas de desenvolvimento económico que se manifestam a nível supra-nacional, nacional, regional ou local, pode ser genericamente atribuída a assimetrias no processo de acumulação de recursos produtivos. Se este princípio é incontroverso, já a definição dos recursos estratégicos que estão na base das mencionadas desigualdades tem variado com o tempo e marcado linhas de fractura entre as diversas escolas de pensamento económico. A tentativa de identificação desses recursos e a explicação dos motivos da sua concentração num número relativamente reduzido de regiões privilegiadas ocupará a primeira parte desta dissertação. Nela será desenvolvido o conceito de potencial inovativo ou capacidade de criação permanente de novos valores de uso e de concepção de formas mais eficientes de produzir e de aceder aos mercados. Este potencial será apontado como o meio privilegiado de aquisição de vantagens comparativas num mundo onde a globalização das relações económicas e a evolução acelerada dos meios de transporte e comunicação tendem a reduzir os efeitos de monopólio espacial e as vantagens decorrentes do acesso a recursos naturais. Veremos, também, como o conceito de economias externas territorialmente confinadas, baseadas na existência de fortes interacções entre organizações e agentes económicos, geradoras de sinergias e propiciadoras da rápida difusão de conhecimentos técnicos e económicos, explica as desigualdades na distribuição espacial da capacidade inovativa.

Com base nestes conceitos, desenvolveremos um modelo conceptual que relaciona o potencial inovativo (e as externalidades a ela subjacentes) com o modo como os sistemas económicos evoluem tecnicamente. Menores capacidades de inovação geram uma tendência para a aquisição de novas tecnologias incorporadas em bens de capital; maiores capacidades possibilitam a criação de tecnologias não incorporadas ou apenas parcialmente incorporadas em bens de capital. Como estes bens têm um período de utilização mínimo e o seu conteúdo tecnológico se mantém inalterado desde o momento em que foram concebidos, podemos concluir que graus elevados de incorporação do progresso técnico implicam perdas de eficiência relativamente aos sistemas económicos que sejam mais criadores do que consumidores passivos de tecnologia.

A formalização destes conceitos dará lugar ao desenvolvimento, na segunda parte desta dissertação, de um modelo quantitativo que, inspirado no modelo de Solow das vintages de capital, nos permitirá estabelecer uma relação entre o grau de incorporação de progresso técnico e o retardamento face aos limites tecnológicos existentes em cada momento. Este modelo será confrontado com a realidade empírica, mediante a utilização de uma base de dados das contas regionais dinamarquesas para os anos que decorrem entre 1979 e 1990.

The existence of deep and persistent geographical inequalities of economic development, observed at international, national regional or local levels, can be generically attributed to asymmetries in the process of accumulation of productive resources. Notwithstanding the general acceptance of this rather vague principle, the definition of the strategic resources lying beneath the mentioned inequalities has been changing over time and is a matter of controversy between different economic schools. The identification of these resources and the discussion of the reasons explaining why are they concentrated in a relatively small number of privileged regions is the aim of the first part of the dissertation. We also develop the concept of innovative potential, the capacity of permanent creation of new use values and conception of more efficient ways of producing and marketing. This potential is a key factor determining the geographical pattern of comparative advantages in a world where the globalisation of economic relations and the fast evolution of the means of transport and communication are increasingly reducing the effect of spatial monopolies and the importance of natural resources endowments. We will also present the concept of localised externalities based on the existence of strong interactions between economic agents and organizations, generating synergies and favouring technological diffusion. These externalities, we will argue, have a strong explanatory power of the uneven spatial pattern of innovative capacity distribution.

Based on the above referred concepts, we will develop a qualitative model relating the innovative potential with the patterns of technical progress. Weaker innovative capacities tend to be compensated with the acquisition of new technologies embodied in capital goods, while stronger capacities make possible the creation of disembodied or partially disembodied technical innovations. Because capital goods must have a minimum period of use and because their technological content is defined at the time of their conception, we conclude that high levels of embodiment of technical progress will imply a loss in efficiency relatively to the economic systems which are creators rather than passive consumers of technology.

We follow on, in the second part of the dissertation, with the construction of a quantitative model, inspired in the well known vintage model of Robert Solow. Defining a relation between the degree of embodiment of technical progress and the gap between the productivity of the economic system and the actual technological limits, this model will be tested with empirical data concerning the danish regional accounts covering the years between 1979 and 1990.