Cronótipo, hora do dia e reconhecimento facial: o papel moderador da empatia e dos traços de personalidade

Abstract

O cronótipo descreve a ritmicidade diurna do indivíduo baseada nas suas características biológicas. Assim, regula os níveis de excitação e atividade ao longo do dia e potencia horas ideais de desempenho. De acordo com o seu cronótipo, os indivíduos podem ser considerados matutinos (tipo matinal), vespertinos (tipo noturno) ou intermédios. Vários autores têm encontrado associações interessantes entre cronótipo, hora do dia em que os sujeitos são avaliados e variáveis individuais, nomeadamente com a capacidade empática, os traços de personalidade e o desempenho em tarefas de reconhecimento facial. No entanto, este é o primeiro estudo que integra todas estas variáveis, procurando investigar especificamente o papel moderador da empatia e da personalidade sobre o efeito do cronótipo e da hora do dia numa tarefa de reconhecimento de faces. A amostra total de 49 participantes foi dividida em dois grupos consoante o seu cronótipo (25 matutinos e 24 vespertinos) e o desempenho de cada participante foi avaliado em dois momentos diferentes (ao início da manhã e ao início da noite). Os instrumentos utilizados foram o Morningness-Eveningness Questionnaire (MEQ) para avaliar o cronótipo, o Interpersonal Reactivity Index (IRI) para a empatia, o NEO Five Factor Inventory (NEO-FFI-20) para a personalidade e uma tarefa adaptada da Glasgow Face Matching Test (GFMT) para o reconhecimento de caras. Os resultados demostraram que a pontuação de fantasia e de desconforto pessoal (duas subescalas do IRI) moderaram o efeito do cronótipo e da hora do dia na rapidez de reconhecimento facial: quando o nível de fantasia é alto, o padrão é sugestivo de assincronia e quando o nível de desconforto pessoal é baixo, o padrão é sugestivo de sincronia. Relativamente à personalidade, foram encontrados resultados significativos para o neuroticismo, a abertura à experiência e a conscienciosidade. Os participantes com níveis mais elevados de neuroticismo são mais rápidos e acertam mais na sessão da noite; sendo que os matutinos com níveis mais elevados de neuroticismo são mais rápidos à noite. Para a abertura à experiência observaram-se interações duplas e triplas: os participantes com níveis mais elevados de abertura à experiência são mais rápidos de manhã, os matutinos com níveis mais elevados de abertura à experiência são mais rápidos de manhã e os matutinos com níveis mais baixos de abertura à experiência são mais rápidos à noite. Existe ainda uma tendência para os participantes com níveis mais baixos de conscienciosidade serem mais lentos na sessão da noite e para os participantes com níveis mais altos de conscienciosidade serem mais rápidos à noite. Dado o caráter exploratório deste estudo, algumas das suas limitações metodológicas e a escassez de literatura, são precisos mais estudos que integrem estas variáveis para consolidar as conclusões e compreender melhor alguns dos mecanismos subjacentes. A presente dissertação reveste-se assim de um caráter inovador, salientando novos interesses na área da Cronopsicologia.

Chronotype describes an individual's diurnal rhythmicity based on their biological characteristics. Thus, it regulates levels of arousal and activity throughout the day and determines optimal performance times. According to their chronotype, individuals can be considered morning, evening, or intermediate types. Several authors have found interesting associations between chronotype, the time of day of assessment and individual variables, namely with empathic ability, personality traits and performance in face recognition tasks. However, this is the first study that integrates all these variables, seeking to investigate specifically the moderating role of empathy and personality on the effect of chronotype and time of day in a face recognition task. The total sample of 49 participants was divided into two groups according to their chronotype (25 morning-types and 24 evening-types) and the performance of each participant was assessed at two different times (early morning and early evening). The instruments used were the Morningness-Eveningness Questionnaire (MEQ) to assess chronotype, the Interpersonal Reactivity Index (IRI) for empathy, the NEO Five Factor Inventory (NEO-FFI-20) for personality and a task adapted from the Glasgow Face Matching Test (GFMT) for face recognition. The results showed that the fantasy and personal discomfort scores (two subscales of the IRI) moderated the effect of chronotype and time of day on the speed of facial recognition, with the pattern suggesting asynchrony when the level of fantasy is high and synchrony when the level of personal discomfort is low. Regarding personality, significant results were found for neuroticism, openness to experience and conscientiousness. Participants with higher levels of neuroticism were faster and more accurate in the evening session; with morning people with higher levels of neuroticism being faster in the evening. Double and triple interactions were observed for openness to experience: participants with higher levels of openness to experience were faster in the morning and morning people with lower levels of openness to experience were faster in the evening. There was also a tendency for participants with lower levels of conscientiousness to be slower in the evening session and for participants with higher levels of conscientiousness to be faster in the evening, suggesting a positive association between conscientiousness and nighttime performance. Given the exploratory nature of this study, some of its methodological limitations and the scarcity of literature, more studies integrating these variables are needed to consolidate the present conclusions and better understand some of the underlying mechanisms. Thus, the present dissertation has an innovative character, highlighting new interests in the area of Chronopsychology.