A construção da imagem da pessoa idosa nas crianças: análise infocomunicacional nos filmes de animação

Abstract

Apesar da proporção de pessoas idosas nunca ter sido tão elevada, este grupo etário enfrenta desafios relacionados com o idadismo, sofrendo com as atitudes preconceituosas e práticas discriminatórias. Neste âmbito, os media têm um papel importante, construindo, perpetuando e/ou desafiando os estereótipos relacionados com esta fase da vida, verificando-se que crianças são especialmente sensíveis às imagens transmitidas pelos media. Os filmes de animação constituem um conteúdo privilegiado pelo público infantojuvenil, podendo exercer uma forte influência na forma como as crianças compreendem o mundo, nomeadamente as pessoas idosas e o processo de envelhecimento. A presente investigação procurou identificar e analisar a representação das pessoas idosas nos filmes de animação mais vistos em Portugal, durante o período de 2008 a 2018, destinados ao público infantojuvenil, assim como compreender a potencial influência dos filmes de animação na concetualização da população idosa e do processo de envelhecimento no público infantojuvenil e desenvolver uma proposta de diretrizes, a serem aplicadas em programas de ação, que fomentem uma conceção realista e positiva da população idosa e do envelhecimento. Para alcançar os objetivos da investigação procedeu-se à análise da representação das pessoas idosas nos filmes de animação mais vistos em Portugal, através da utilização de uma grelha de análise adaptada de outros estudos relacionados. Posteriormente, foram realizadas sessões de focus group e entrevistas com crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos, após a visualização de três filmes selecionados. Este estudo revelou uma sub-representação e uma falta de diversidade na representação de pessoas idosas, nomeadamente em termos de género e raça. Apesar da caraterização das personagens idosas ter sido predominantemente positiva, com aspetos naturais do envelhecimento, como rugas e cabelos grisalhos, as personagens idosas foram maioritariamente associadas a papéis pouco relevantes, com apreciações gerais negativas e positivas distribuídas de forma equilibrada. As crianças referiram mais respostas negativas em relação aos atributos físicos, estando a dimensão psicológica mais associada a respostas positivas. As personagens idosas com papéis mais significativos e com papéis de mentores, receberam mais respostas positivas. As crianças mais velhas e as que tinham menos contacto com pessoas idosas tendiam a manifestar mais respostas negativas. O desenvolvimento deste trabalho de investigação sublinha a importância de apostar na diversificação da representação das pessoas idosas, considerando as suas diferentes experiências e heterogeneidade. A presença de pessoas de diferentes idades em papéis relevantes, assim como o equilíbrio de personagens idosas de diferentes géneros e raças, são algumas das diretrizes decorrentes deste trabalho. Os estereótipos e os preconceitos sobre o envelhecimento devem ser identificados e abordados através de programas educacionais e atividades intergeracionais, destacando-se a necessidade contínua de investir em ações que promovam uma visão positiva, diversificada e realista do envelhecimento.

Although the proportion of older people has never been higher, this age group faces challenges related to ageism, suffering from prejudiced attitudes and discriminatory practices. In this context, the media play an important role in constructing, perpetuating and/or challenging stereotypes related to this stage of life, and children are especially sensitive to the images conveyed by the media. Animated films are a privileged content for children and can have a strong influence on the way children understand the world, namely the old people and the aging process. This research aimed to identify and analyze the representation of older people in the most watched animated films in Portugal, during the period from 2008 to 2018. Another aim of the study was to ascertain whether animated films had the potential to influence children's perception and comprehension of the elderly population and the aging process. Moreover, the research sought to develop a comprehensive set of guidelines to be implemented in action programs, with the purpose of promoting a constructive and authentic understanding of the older adults and the aging process. To achieve the research objectives, an analysis was conducted on the portrayal of older individuals in the most watched animated films in Portugal. The analysis utilized a modified analysis grid that was developed based on previous related studies. Following the viewing of three selected films, focus group sessions and interviews were conducted with children between the ages of 6 and 12. This study unveiled a notable underrepresentation of older individuals and a significant dearth of diversity in their portrayal, particularly concerning gender and race. Despite the generally positive depiction of characters in their later stages of life, featuring natural attributes of aging such as wrinkles and gray hair, these characters were often associated with irrelevant roles and were often shown in a negative light, with overall negative and positive evaluations evenly distributed. The children expressed predominantly negative responses towards the physical attributes of older characters, while displaying more positive attitudes towards their psychological dimensions. Older characters with prominent roles and mentoring positions garnered more positive responses. Negative responses were more commonly observed among older children and those who had limited exposure to older individuals. The development of this research highlights the importance of diversifying the representation of older individuals, considering their different experiences and heterogeneity. It is recommended to include people of different age groups in relevant roles and maintain a balance in portraying characters of various genders and races. Stereotypes and prejudices about aging should be identified and addressed through educational programs and intergenerational activities, emphasizing the continued need to invest in actions that promote a positive, diverse, and realistic view of the aging process.