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http://hdl.handle.net/10773/40459
Title: | Ondas de calor marinhas em ambientes intertidais: tolerância térmica e plasticidade fenotípica do peixe Pomatoschistus microps |
Other Titles: | Marine heat waves in intertidal environments: thermal tolerance and phenotypic plasticity of the fish Pomatoschistus microps |
Author: | Almeida, Célia Isabel da Cruz |
Advisor: | Madeira, Diana Sofia Gusmão Coito Madeira, Sara Carolina Gusmão Coito |
Keywords: | Aquecimento global Ondas de calor marinhas Lagoas costeiras Peixes intertidais Tolerância térmica Aclimatação Biomarcadores moleculares Taxa metabólica |
Defense Date: | 6-Dec-2023 |
Abstract: | Os oceanos são os maiores dissipadores de calor do sistema climático global.
Os cenários modelados preveem um aquecimento gradual e continuo e ondas
de calor cada vez mais frequentes, intensas e de maior duração nas zonas
costeiras da Península Ibérica, tornando os estuários particularmente
vulneráveis a eventos climáticos extremos. O aumento do risco de
sobreaquecimento dos organismos marinhos e a mortalidade nos principais
grupos taxonómicos têm sido observados recorrentemente, mas os
mecanismos moleculares subjacentes à vulnerabilidade ou tolerância de
organismos às ondas de calor ainda são amplamente desconhecidos. O
objetivo desta tese foi estudar os impactos do aquecimento global e das ondas
de calor marinhas na espécie Pomatoschistus microps (caboz comum) e
perceber como é que o aumento da temperatura está a moldar os mecanismos
que estes peixes usam para enfrentar o stress térmico tanto a nível molecular
como fenotípico, para inferir sobre a tolerância e capacidade de aclimatação
térmica da espécie.
Os peixes foram submetidos a 3 tratamentos diferentes durante 30 dias: um
Tratamento de Controlo que é representativo da temperatura média anual para
a zona costeira portuguesa (19 °C), um Tratamento 1 correspondente ao
regime térmico atual de verão (22 °C) e um Tratamento 2 que representa a
temperatura média futura de verão (25 °C). Ao fim de 30 dias, a temperatura
foi aumentada a uma taxa de 1 °C por hora (+ 5 °C) nos Tratamentos 1 e 2
para simular uma onda de calor marinha atual (de 27 °C com duração de 7
dias no Tratamento 1) e uma onda de calor futura (de 30 °C com duração de
12 dias no Tratamento 2). Em cada ponto de amostragem (após os 30 dias de
exposição aos cenários de controlo, verão atual e verão futuro e após a
exposição às ondas de calor) foram colhidos peixes para estimar: i) o consumo
de oxigénio através de respirometria (taxa metabólica de rotina), ii) o limite de
tolerância térmica (“Critical Thermal Maximum”, CTmax), e iii) a resposta
celular ao stress no músculo, através da quantificação de biomarcadores,
(Capacidade Antioxidante Total (TAC), Peroxidação Lipídica (LPO),
desnaturação proteica (Ubiquitina (UBI) e Proteína de Choque Térmico 70 kDa
(HSP70)) e Superóxido Dismutase (SOD)) e das Proteínas Totais (PT) como
medida de reserva energética. Ao longo do tempo a mortalidade também foi
registada. Para a análise dos dados foi utilizado o software PRIMER 6 (versão
6.1.16) e o Excel (Microsoft 365).
Os peixes apresentaram um maior consumo de oxigénio quando submetidos
ao cenário futuro de aquecimento oceânico, existindo diferenças significativas
entre o Controlo e o Tratamento 2 ao fim de 30 dias, indicando que a taxa
metabólica aumenta nas temperaturas mais elevadas, potencialmente
induzindo maiores gastos energéticos. Os limites térmicos máximos
aumentaram com o aumento da temperatura e com o tempo de exposição,
variando de 32,5 °C a 36,4 °C, e em todos os tratamentos foram superiores à
temperatura máxima do habitat (23,6 °C), o que resulta numa margem de
segurança térmica (TSM) positiva. Observamos diferenças significativas no
limite térmico máximo nos peixes do Tratamento 2 em relação ao Controlo e
em relação ao Tratamento 1 ao fim de 30 dias, bem como no Tratamento 1 ao
fim de 37 dias. No entanto, a taxa de resposta de aclimatação (ARR) para o
CTmax é muito próxima de 0, ou seja, apresentam uma baixa capacidade de
aclimatação. Perante os diferentes cenários térmicos simulados no laboratório
não foram detetadas quaisquer alterações nos biomarcadores, ou seja, não
apresentaram nenhuma resposta significativa perante o aumento da
temperatura. Isto mostra que a espécie estará bem adaptada a temperaturas
elevadas ou conseguiu aclimatar-se durante o tempo da experiência. No
entanto, a mortalidade aumentou durante a simulação de aquecimento global e
onda de calor futura (Tratamento 2). Isto é indicativo de que os peixes terão
sofrido maior desregulação fisiológica nesse tratamento, mas que esta pode
não ter sido evidente no músculo, ou poderá estar relacionada com outros
fatores que não foram avaliados, como por exemplo devido à desregulação no
balanço energético dos tecidos.
Podemos concluir que a espécie P. microps apresenta uma grande tolerância
às variações ambientais dentro da sua faixa térmica, mas apresenta pouca
capacidade de aclimatação, o que pode ser problemático a longo prazo para a
sobrevivência da espécie. O aquecimento global antropogénico vai aumentar a
variabilidade nos ecossistemas e pode trazer desafios ecológicos à medida
que ocorrem novas interações entre espécies. Isto torna ainda mais difícil a
avaliação dos impactos das alterações climáticas. Por isso, compreender as
respostas fisiológicas das espécies é crucial para uma avaliação mais precisa
dos riscos ambientais, e assim ser possível definir estratégias adaptativas de
conservação e mitigação para uma melhor gestão de recursos marinhos. The oceans are the largest heat sinks of the global climate system. Modelled scenarios predict gradual and continuous warming, as well as increasingly frequent, intense, and longer-lasting heatwaves in the coastal areas of the Iberian Peninsula, making estuaries particularly vulnerable to extreme weather events. The increased risk of overheating in marine organisms and mortality in major taxonomic groups have been recurrently observed. Yet, the molecular mechanisms underlying the organism’s vulnerability or tolerance to heatwaves are still largely unknown. Accordingly, the main aim of this thesis was to study the impacts of global warming and marine heatwaves on the species Pomatoschistus microps (commonly known as goby) and to understand how rising temperatures are shaping the mechanisms these fish use to cope with thermal stress, both at the molecular and phenotypic levels, to infer about the species' thermal tolerance and acclimation capacity. Fish were subjected to three different treatments over 30 days: Control Treatment representing the average annual temperature for the Portuguese coastal zone (19 °C), Treatment 1 corresponding to the current summer thermal regime (22 °C), and Treatment 2 representing the estimated future summer average temperature (25 °C). After 30 days, the temperature was raised at a rate of 1 °C per hour (+ 5 °C) in Treatments 1 and 2 to simulate current marine heatwaves (27 °C for 7 days in Treatment 1) and future heatwaves (30 °C for 12 days in Treatment 2). At each sampling point (after 30 days of exposure to control, current summer, and expected future summer scenarios, and after the heatwaves simulations), fish were sampled to estimate: i) oxygen consumption through respirometry (routine metabolic rate), ii) the critical thermal maximum (CTmax), and iii) the cellular stress response in muscle tissue by quantifying oxidative stress and protein denaturation biomarkers (Total Antioxidant Capacity (TAC), Lipid Peroxidation (LPO), protein denaturation (Ubiquitin (UBI), and 70 kDa Heat Shock Protein (HSP70)) and Superoxide Dismutase (SOD), as well as Total Proteins (TP) as an energy reserve measurement. Mortality was also recorded over time. Data analysis was conducted using PRIMER 6 (version 6.1.16) and Excel (Microsoft 365). Fish exhibited increased oxygen consumption when subjected to the expected future ocean warming scenario, with significant differences between the Control and Treatment 2 at the 30-day time point, indicating an increase in metabolic rate at higher temperatures, potentially resulting in greater energy expenditure. Maximum thermal limits increased with temperature and exposure time, ranging from 32.5 °C to 36.4 °C, and in all treatments, they exceeded the maximum habitat temperature (23.6 °C), resulting in a positive thermal safety margin (TSM). Significant differences in the maximum thermal limits were observed in fish from Treatment 2 compared to Control and Treatment 1 after 30 days, as well as in Treatment 1 after 37 days. However, the acclimation response rate (ARR) for CTmax was very close to 0, indicating low acclimation capacity. No changes in biomarkers were detected in response to the simulated thermal scenarios in the laboratory, suggesting that the species is well adapted to high temperatures or may have acclimated during the experiment. Nevertheless, mortality increased during the simulation of anthropogenic global warming and estimated future heatwaves (Treatment 2), indicative of potential physiological dysregulation in these fish, which may not have been evident in the muscle or could be related to unexamined factors, such as alterations in tissue energy balance. In conclusion, the species P. microps demonstrates significant tolerance to environmental fluctuations within its thermal range but displays limited acclimation capacity, posing potential long-term challenges to its survival. Anthropogenic global warming will increase variability in ecosystems and may bring ecological challenges as new species interactions emerge. This complicates the assessment of climate change impacts further. Therefore, understanding species' physiological responses is essential for a more accurate assessment of environmental risks, enabling the definition of adaptive conservation and mitigation strategies for improved marine resource management. |
URI: | http://hdl.handle.net/10773/40459 |
Appears in Collections: | UA - Dissertações de mestrado DBio - Dissertações de mestrado |
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