Desenvolvimento da flexibilidade cognitiva dos alunos-futuros-professores: uma experiência em didáctica do inglês

Abstract

0 estudo que agora relatamos explorou a possibilidade de se desenvolver a flexibilidade cognitiva dos alunos futuros professores de Inglês como língua estrangeira na vertente da gestão dos erros ocorridos em situação de sala de aula. Tal tentativa exploratória de desenvolvimento socorreu-se da Teoria da Flexibilidade Cognitiva da autoria de Rand J. Spiro -co-orientador deste trabalho -e sua aplicação à construção de hipertextos com finalidades educativas. Da utilização de diferentes formatos educativos baseados no ensino assistido por computador dirigidos a um estádio aprofundado de aprendizagem num domínio complexo e de estruturação holístico-integrativa, passou-se ao desenvolvimento de uma base de dados que denominámos "Mistake Management -Cognitive Flexibility Development for Teachers of English as a Foreign Language", de acordo com os pressupostos teóricos e operacionais da Teoria da Flexibilidade Cognitiva. Os dois grupos envolvidos no presente estudo eram, à data da experiência, alunos do investigador e da orientadora responsável do trabalho de investigação, Professora Doutora lsabel Alarcão, e frequentavam a disciplina de Didáctica do lnglês, no 2º semestre do 4º ano das Licenciaturas em Ensino de Português-Inglês e lnglês-Alemão, da Universidade de Aveiro, no ano lectivo de 1991-92. Do conjunto dos alunos destes dois cursos seleccionaram-se aleatoriamente dois grupos (um experimental e outro de comparação) que participaram e completaram uma experiência na qual, após exposição introdutória aos conteúdos a adquirir, realizaram oito sessões de estudo individual, de uma hora cada, em duas vertentes distintas, consoante o grupo de investigação em que tinham sido colocados. Assim, ao grupo de comparação coube o estudo dos materiais constantes do hipertexto "Mistake Management" que detinha uma estrutura tradicional, linear, de apresentação de conteúdos; ao grupo experimental, uma outra versão da mesma base de hipertexto (com conteúdos exactamente iguais à primeira), desta feita estruturada numa vertente flexível, cruzada, dos referidos conteúdos. 0 desenho experimental para o grupo experimental consistia num procedimento de navegação inter-cartões de cruzamento temático que se socorria de apresentações múltiplas de casos nos quais os cruzamentos temáticos se evidenciavam pela sua relevância, ou ausência de relevância, inter-casos. 0 grupo de comparação completou um conjunto idêntico de sessões, também por recurso ao computador e ao hipertexto, mas cuja estrutura se assemelhava à de um livro no qual, por inerência, os capítulos e a informação neles contida se sucedem de modo regular e sequenciado. Para além de algumas tarefas e materiais de avaliação normais num estudo que se fundamenta em dados de tipo qualitativo e quantitativo, utilizou-se também um questionário com a finalidade de determinar a possível influência das concepções epistemológicas básicas dos sujeitos relativamente à natureza do conhecimento e da aprendizagem que, de algum modo, esclareceriam a verdadeira orientação dos resultados obtidos em função da personalidade dos sujeitos em aprendizagem. Em nenhum dos grupos se notaram diferenças significativas nos valores médios das medidas relativas ao conhecimento factual. 0 grupo experimental, porém, alcançou scores médios mais elevados do que o grupo de comparação na tarefa de transferência imediata de conhecimentos, e um valor significativamente mais elevado na tarefa de transferência remota (o ensaio do pós-teste). Não se constatou a existência de quaisquer efeitos de interacção entre as preferências epistemológicas de aprendizagem dos sujeitos com os resultados obtidos nas várias provas a que foram submetidos. Os resultados deste estudo sugerem que os sistemas hipertexto que utilizam uma abordagem baseada em casos estruturados, de modo a fornecer representações múltiplas do conhecimento que enfatizam as interrelações críticas entre diferentes componentes estruturais e de superfície do conhecimento, podem ser superiores na sua eficácia de preparação dos alunos para a utilização do conhecimento de novas maneiras e em situações novas. Os resultados também sugerem, embora de forma mais ténue, que os professores, os autores de manuais e os pedagogos e didactas em geral deveriam procurar conhecer as preferências epistemológicas dos alunos a que se dirigem relativamente à natureza do conhecimento e da aprendizagem. Avançam-se sugestões para futuros estudos.

This study has explored the possibility of developing the cognitive flexibility of future teachers of English as a Foreign Language with a focus on the management of errors which occur in classroom situations. This exploratory attempt at development was grounded in Rand J. Spiro's -co-supervisor of this study -Cognitive Flexibility Theory and its application to the development of educational hypertexts. From the use of different educational formats based on computer-assisted learning and aiming at advanced learning stages in complex and ill-structured domains, a data-base we called "Mistake Management - Cognitive Flexibility Development for Teachers of English as a Foreign Language" was developed, according to the theoretical and design assumptions of Cognitive Flexibility Theory. At the time of the experiment the two groups involved in the study were the researcher and the head supervisor's - Isabel Alarcão - students, who were enrolled in English Teaching Methodology in the 2nd semester, 4th year of Portuguese-English and English-German Teaching ”Licenciaturas" at the University of Aveiro (Portugal), in the academic year of 1991- 92. From the total number of students in these two courses two groups were randomly selected (an experimental group and a comparison group). The two groups participated in an experiment in which, after having been exposed to the course contents at an introductory level in class time, were required to attend eight one hour individual study sessions using the computer in two distinct formats, according to the research treatment to which they had been assigned. The comparison group was given the materials in the data-base "Mistake Management" which depicted a traditional, linear structure of content presentation; the experimental group was given exactly the same materials, but structured in a flexible, "criss-crossing" mode of presentation of the contents. The treatment for the experimental group consisted of an inter-card navigation procedure which was based on multiple presentation of cases where the thematic criss-crossing was made salient in terms of inter-case relevance -or lack of it. The comparison group completed an identical number of sessions, also using the hypertext, but whose structure resembled that of a book in which, by analogy, chapters and information is presented in a regular and sequential fashion. Besides some data-gathering tasks and instruments which are normal in studies which rely both on quantitative and qualitative data, a questionnaire was used which aimed at determining a possible influence of the subjects' epistemological beliefs as to the nature of knowledge and learning, and thus clarifying the true orientation of the scores obtained by the subjects in the tests. The results of the study reveal that the comparison group did not achieve significantly higher mean scores in the factual knowledge measures. On the other hand the experimental group achieved significantly higher mean scores in all high level knowledge transfer measure tasks (near-transfer: problem-solving, and far transfer: essay). Interaction effects were not detected between epistemological learning preference of the subjects and the results of the different tests. The results of this study also suggest that hypertext systems based on an approach that uses cases which are structured in such a way that they offer multiple representations of knowledge which in turn emphasise critical interconnections between different structural and surface knowledge components can be superior in their effectiveness for the preparation of students in their use of knowledge in new ways and in novel situations.The results also suggest, although less strongly, that teachers, course material authors and didacticians in general should endeavour to find out the epistemological learning preferences as to the nature of knowledge and learning of the students they address. Suggestions for future studies are put forward.