Imigrantes em Portugal: a satisfação com o trabalho e o papel da flexibilidade psicológica

Abstract

Nas últimas décadas, Portugal deixou de ser um país caracterizado apenas pela emigração e passou a apresentar taxas similares de emigração e imigração. No contexto de migração e de migrantes, diversos estudos sobre o bem-estar têm procurado avaliar a sua satisfação com o trabalho e/ou identificar os fatores capazes de afetar essa satisfação. Alguns dos estudos têm-se focado especificamente nas diferenças dos níveis de satisfação dos trabalhadores independentes e trabalhadores por conta de outrem. Neste sentido, flexibilidade psicológica tem sido apontada como um aspeto capaz de influenciar o bem-estar dos indivíduos e pode ser considerada relevante em estudos sobre o panorama migratório. A presente pesquisa tem como objetivo avaliar as variáveis relevantes para a satisfação com o trabalho dos imigrantes em Portugal, avaliar os níveis de satisfação com o trabalho desses imigrantes nas suas diferentes dimensões, tendo em conta a situação dos trabalhadores independentes e por conta de outrem, e analisar o papel da flexibilidade psicológica na satisfação com o trabalho. Para esse efeito, foi desenvolvido um questionário organizado em 3 partes: a primeira composta por perguntas sociodemográficas e psicográficas, a segunda composta pelo Job Satisfaction Survey (JSS), a fim de medir a satisfação com o trabalho dos participantes, e a terceira composta pelo Acceptance and Action Questionnaire – II (AAQ-II), para avaliar a flexibilidade psicológica dos imigrantes. Os resultados mostram que as variáveis sociodemográficas não influenciam significativamente a satisfação com o trabalho dos imigrantes em Portugal e que não existem diferenças na satisfação com o trabalho dos imigrantes que trabalham por conta de outrem e dos imigrantes que são trabalhadores independentes. Constata-se, também, que a flexibilidade psicológica é preditor significativo tanto da satisfação geral com o trabalho [F(1,150)= 20,743, p<0,001; R² = 0,121] como da satisfação em todas as dimensões do JSS estudadas.

In recent decades, Portugal has stopped to be solely an emigration destination and started to present similar rates of emigration and immigration. In the context of migration and migrants, several studies on well-being have sought to assess their job satisfaction and/or to identify the factors capable of affecting this satisfaction. Some of the studies have focused on the differences in the levels of satisfaction of the self-employed and salaried workers. In this sense, psychological flexibility has been identified as an aspect capable of influencing the well-being of individuals and can be considered relevant in studies on the migratory scenario. The present research aims to evaluate the variables relevant to the job satisfaction of immigrants in Portugal, to evaluate the levels of job satisfaction of these immigrants in its different dimensions considering the situation of self-employed and salaried workers, and to analyze the role of psychological flexibility in job satisfaction. For this purpose, a questionnaire organized in 3 parts was developed: the first included sociodemographic and psychographic questions, the second included the Job Satisfaction Survey (JSS) to measure the participants’ job satisfaction, and the third, composed of the Acceptance and Action Questionnaire – II (AAQ-II), to assess the psychological flexibility of immigrants. The results suggest that sociodemographic variables do not significantly influence the job satisfaction of immigrants in Portugal and that there are no differences in the job satisfaction of salaried immigrants and self-employed immigrants. The results also show that psychological flexibility is a significant predictor of both general job satisfaction [F(1,150)= 20,743, p<0,001; R² = 0,121] and satisfaction in all studied dimensions of the JSS.