O arquivo musical de Ema Romero Câmara Reis: as pastas 801 ("Portugal Modernos e Modernistas") e 1120 ("Portugal")

Abstract

Durante os anos em que se dedicou à divulgação musical através da organização de concertos temáticos (1923-1939), Ema Câmara Reis (1897-1968) dedicou- se também à recolha de partituras (impressas ou manuscritas). O seu arquivo musical é uma fonte inesgotável de informação sobre repertórios e compositores de inúmeras nacionalidades. De entre as mais de 299 entradas gerais que se puderam identificar, existem cerca de 2000 partituras de vários compositores, compositoras e nacionalidades – edições de autor, edições de casas musicais de renome nacional/internacional, manuscritos autógrafos e cópias manuscritas, maioritariamente copiadas pela própria Ema. Várias são as pastas dedicadas à música portuguesa, na sua maioria recolhas de música popular harmonizadas para coro, mas existem duas pastas em particular, a pasta 801 (Portugal Modernos e Modernistas) e 1120 (Portugal), das quais consta repertório vocal de câmara de compositores portugueses destacados da época (uma parte deste material assinado e dedicado a Ema pelos próprios compositores). Nestas duas pastas existe mais material do que aquele que foi apresentado nos dois concertos dedicados exclusivamente à música portuguesa, cujos programas se podem consultar nos volumes da Divulgação Musical que ECR publicou posteriormente, e que fazem um levantamento do repertório, intérpretes e palestras apresentados nos concertos que organizou. Os objetivos principais desta comunicação são: identificar, contextualizar e caracterizar o conteúdo das pastas 801 e 1120, com vista a compilar o material musical utilizado por Ema nos dois concertos de Divulgação Musical dedicados à música portuguesa: “A Música Vocal Portuguesa (Nos Séculos XIX e XX)”, de 21 de novembro de 1925 e “Considerações sobre o ‘Lied’”, de 11 de junho de 1930. A metodologia adoptada baseou-se no trabalho de arquivo, na Biblioteca Nacional de Portugal (Espólio de Ema Câmara Reis), onde, entre setembro e dezembro de 2021, se acedeu ao espólio, com vista à realização das seguintes tarefas: 1. identificação detalhada do material; 2. caracterização desse material; 3. análise do material; 4. sistematização dos dados recolhidos. A pasta 801 contém 108 partituras e a pasta 1120 possui 109, um repertório maioritariamente inédito, nomeadamente obras de algumas compositoras portuguesas, como é o caso das obras de Francine Benoît Paysage de guerre, de agosto de 1918 (manuscrito autógrafo) e Despondency (manuscrito autógrafo); vários manuscritos autógrafos de Simmy Ezaguy; Serra de Sintra de Laura Wake Marques (manuscrito autógrafo) e vários materiais de Júlia Oceana Pereira, nomeadamente manuscritos autógrafos de breves canções escritas para interlúdios teatrais durante os concertos de Divulgação Musical. A pasta 1120 é, também, riquíssima em material de mulheres compositoras e dela constam edições de autoras, a maioria delas com dedicatória, bem como vários manuscritos autógrafos de algumas das peças que foram editadas nessas edições. Com este trabalho percebe-se a grande importância deste arquivo musical, e através dele acede-se a materiais não localizados até então e que podem, agora, ser partilhados com outros investigadores, bem como voltar a ser editados e/ ou tocados para que compositoras e materiais ocupem o seu lugar na história da música em Portugal.