O uníssono à luz da heteronímia

Abstract

Nesta investigação pretende-se repensar o uníssono enquanto unidade percetiva que pressupõe uma relação à priori: Se por um lado, musicalmente, o uníssono representa o encontro e a união das vozes, onde a identidade individual é substituída pelo todo reunido numa razão de igualdade, por outro, também pode representar a identidade que se define a partir de uma perspetiva temporal, e por isso, feita de diferenças. Iremos especular sobre a ideia de uníssono dentro do processo criativo, na composição musical, enquanto princípio gerador/revelador/segregador de diferenças, assimetrias, desvios, desequilíbrios, dissonâncias, i.e., de multiplicidade, procurando não apenas a fusão do som, mas o ‘resgate’ da alteridade (do outro) onde a temporalidade será a principal via utilizada de acesso ao(s) outro(s). Para representar o uníssono à luz da heteronímia, pensamos as diferenças a partir da oitava. Esta abordagem investigativa faz-se acompanhar da prática da composição musical, onde são apresentadas seis peças, e com o qual perfaz um todo indivisível. As obras foram escritas ao longo do processo, permitindo uma melhor compreensão da componente teórica. O principal objetivo da exploração sonora, foi a utilização do uníssono enquanto elemento plástico, expressivo e/ou estrutural da composição musical – enquanto ideia para a composição. A pesquisa tem como objetivo uma nova compreensão sobre este elemento da música, no contexto da prática da composição musical contemporânea, pensando o uníssono à luz da heteronímia. A fusão dos sons, que se dá no uníssono, será discutida enquanto realidade passível de ser reinterpretada com base na multiplicação da unidade, da identidade, e, portanto, do Eu.

This investigation aims at rethinking unison as a perceptive unit that implies an a priori relation: If on one hand, on a musical level, unison represents the gathering and union of voices where individual identity is replaced by the whole, united on an equal plane, on the other hand, it can also represent identity that defines itself from a time-based perspective, and thus, made of differences. We will explore the idea of unison within the creative process of musical composition, as a trigger, segregator and revealing principle of differences, asymmetries, deviations, imbalances, dissonances, i.e., of multiplicity, seeking not only the fusion of sound, but also the redemption of the otherness where temporality will be the main access route to the other(s). In order to represent the unison in the light of heteronymy, we think the differences from the octave onwards. This investigative approach is accompanied by the practice of musical composition, where we present six works, with which it makes up an indivisible whole. The works were written throughout the process, allowing for a better understanding of the theoretical component. The main goal of the sound exploitation was the use of unison as a plastic element, expressive and/or structural of the musical composition - as an idea for the composition itself. The research aims at providing a new understanding on this musical element, in the context of the practice of contemporary music composition, thinking the unison in the light of heteronymy. The fusion of sounds that takes place in unison will be discussed as a reality amenable to reinterpretation, based on the multiplication of unity, identity and, therefore, the I.