Impacto da pandemia COVID-19 nos profissionais de saúde em contexto de hemodiálise

Abstract

A COVID-19 é uma doença pandémica provocada pelo novo coronavírus que pode causar infeção respiratória grave e que constitui atualmente uma emergência de saúde pública global. A pandemia e respetivas medidas de prevenção e proteção levaram a uma gestão ainda mais complexa dos cuidados de saúde em geral, gestão essa que se torna particularmente sensível e rigorosa na prestação de cuidados em diálise, podendo ter impacto nos profissionais de saúde [PS] que atuam nesse contexto. A presente investigação teve como objetivo explorar as experiências e impactos da pandemia COVID-19 em PS que prestam cuidados em hemodiálise, bem como analisar os níveis de burnout, ansiedade e depressão dos mesmos. O estudo seguiu uma metodologia mista (i.e., qualitativa e quantitativa), assente na realização de uma entrevista semiestruturada e na aplicação de dois instrumentos de avaliação psicológica: o Maslach Burnout Inventory [MBI] e a Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar [HADS]. Os participantes foram recrutados a partir de um centro de hemodiálise na zona Norte de Portugal, através da técnica de bola de neve, e entrevistados por videochamada. Da amostra fizeram parte 19 enfermeiros, 4 médicos e 2 farmacêuticos (N = 25). Os resultados referentes ao burnout mostraram que 32% dos PS apresentou exaustão emocional [EE], 4% despersonalização, e 12% diminuição da realização pessoal; a maioria (60%) apresentou sintomatologia ansiosa, nomeadamente as mulheres, os profissionais mais jovens, solteiros, e com menos anos de carreira profissional; 32% dos participantes apresentou sintomatologia depressiva. Quanto à análise das entrevistas, emergiram sete temas principais: (1) maiores desafios de trabalhar durante a pandemia; (2) impacto emocional; (3) outros impactos psicológicos; (4) impacto na vida pessoal; (5) estratégias para lidar com as adversidades; (6) perspetivas sobre o futuro do trabalho em hemodiálise; e (7) efeitos positivos da pandemia. Em suma, os profissionais entrevistados depararam-se com vários desafios durante a pandemia (sobrecarga de trabalho/horária, etc.), tendo no entanto recorrido a estratégias de coping eficazes, em particular o suporte de pares. Apesar da ausência da síndrome de burnout completa, os dados referentes à EE demonstram a necessidade de monitorizar a saúde mental destes profissionais. Este é um dos primeiros estudos a abordar o impacto da pandemia nos PS em contexto de hemodiálise em Portugal, identificando alguns stressores e estratégias utilizadas para lidar com as adversidades em situação de crise nessa área de atuação.

COVID-19 is a pandemic disease caused by the new coronavirus, which can lead to severe respiratory infection. It is currently a global public health emergency. The pandemic and the resultant implemented measures lead to an even more intricate management of healthcare services. This management is of particular complexity in hemodialysis centers, which might impact in the healthcare workers [HCW] at those settings. This study aimed to investigate the experiences and the impact of the COVID-19 pandemic in HCW who work at hemodialysis centers, as well as their levels of burnout, anxiety, and depression. A mixed methodology (qualitative and quantitative) was used, based on a semi-structured interview and on the application of two psychological assessment instruments: the Maslach Burnout Inventory [MBI] and the Hospital Anxiety and Depression Scale [HADS]. The HCW were recruited from a hemodialysis center in the northern region of Portugal using the snowball technique. The interviews were conducted through videocall. The sample was comprised of 19 nurses, 4 physicians, and 2 pharmaceuticals (N = 25). Regarding burnout, the results showed that 32% of the participants presented emotional exhaustion, 4% depersonalization, and 12% diminished personal accomplishment. In what concerns the anxiety results, 60% presented anxious symptoms, with higher values among female participants, younger professionals, individuals who were single, and those with less working experience. As for depression, 32% of the participants showed depressive symptoms. Seven main themes have emerged from the interviews’ qualitative analysis: (1) biggest challenges of working during the pandemic; (2) emotional impacts; (3) other psychological impacts; (4) personal life impacts; (5) strategies to cope with adversities; (6) future perspectives about working in hemodialysis care; and (7) positive effects of the pandemic. Overall, the HCW interviewed faced several challenges during the pandemic (increased workload, etc.) which they overcame by using effective coping mechanisms, specifically peer support. Even though there was no burnout in this sample, the data show the importance of monitoring HCW’s mental health. This is one of the first studies investigating the pandemic’s impact on hemodialysis HCW in Portugal, bringing to light some stressors and strategies to cope with adversities in crisis situations.