A utilização de aplicações móveis no ensino superior: uma abordagem exploratória de medição na Universidade de Aveiro

Abstract

A proliferação de dispositivos móveis e aplicações móveis facilitou o acesso à informação e mudou a forma como as pessoas comunicam, trabalham e estudam. No contexto do ensino superior, vários estudos indicam que as aplicações são utilizadas considerando três abordagens principais: melhoria ou complemento de aulas, acesso à informação e serviços e promoção da interação, comunicação e acesso a cursos e trabalho. No entanto, os utilizadores têm hábitos de utilização de aplicações muito diferentes uns dos outros e os instrumentos de recolha de dados que tipicamente suportam esse tipo de estudos, baseiam-se geralmente na perceção que os utilizadores reportam sobre a sua própria utilização. Vários autores referem que são necessários estudos de outro tipo para apoiar adequadamente este tipo de investigação. Por conseguinte, é importante identificar que aplicações são utilizadas, o seu tipo de utilização, se as suas utilizações variam de acordo com o contexto e também compreender se a utilização real e a percebida são coincidentes. Com base numa abordagem exploratória, este estudo visa analisar a utilização de aplicações móveis pelos estudantes da Universidade de Aveiro, cruzando a utilização referida pelos estudantes com dados de utilização efetiva. Pretende, ainda, analisar potenciais diferenças que ocorrem na utilização destas aplicações/serviços em função de variáveis como a tipologia de aulas (Teóricas/Práticas/Teórico-práticas/laboratórios), área científica (ciências exatas/ciências sociais), ciclos de estudo (licenciatura/mestrado/doutoramento) e horário (manhã/tarde). O estudo tem uma abordagem mista que contempla a observação não participante, a aplicação de um questionário e a análise de registos de utilização(logs). Ressaltam-se como principais contributos desta investigação o referencial teórico produzido, a abordagem metodológica utilizada, com o cruzamento de dados recolhidos através de questionários, os quais foram triangulados com dados de utilização efetiva (logs) e com os dados recolhidos pelo investigador através de grelhas de observação e que permitem uma avaliação mais objetiva dos perfis dos utilizadores, o que ajudará a identificar potenciais discrepâncias entre a auto-perceção e a utilização efetiva de dispositivos e aplicações móveis, tendo como objetivo o aprofundamento do conhecimento da utilização de dispositivos móveis no contexto do ensino superior. Os resultados obtidos mostram que, durante as aulas, neste estudo, há uma utilização de aplicações e dispositivos móveis, nomeadamente em smartphones, que nos parece bastante significativa. Esta utilização é feita essencialmente a partir de smartphones e computadores portáteis e as aplicações mais frequentemente utilizadas são o Instagram, Messenger, Youtube, E-mail e Facebook. Esta perceção parece ser confirmada nos registos, embora se deva notar que o Facebook tem uma utilização mais intensiva do que a relatada nos questionários e que existe uma enorme tendência para a utilização de redes sociais durante as aulas. Também concluímos que existem diferenças de utilização em função da área de estudo, tipologia de aulas e horário. Como conclusões finais deste trabalho, para além da resposta às questões de investigação impulsionadoras deste estudo sobre a utilização de aplicações móveis no ensino superior no caso analisado, apresentam-se um conjunto de recomendações aos docentes bem como um modelo possível para medição da utilização de dispositivos móveis nas IES pelos estudantes. No que diz respeito às recomendações aos docentes, os resultados obtidos permitem verificar que uma grande maioria dos estudantes considera que deveria existir uma maior integração de aplicações móveis durante as aulas, sendo que esta integração se torna ainda mais relevante nos níveis de ensino mais elevados, ou seja, mestrados e doutoramentos. A metodologia de recolha de dados implementada neste estudo, garantindo o total anonimato dos utilizadores, pode contribuir para a criação de sistemas de alerta com base em análise de logs de acesso em tempo real, permitindo às IES criarem mecanismos de implementação de Learning Analytics que se podem revelar como uma enorme inovação nas práticas pedagógicas.

The proliferation of mobile devices and mobile applications has facilitated access to information and changed the way people communicate, work and study. In the context of higher education, many studies indicate that apps are used considering three main approaches: improving or complementing classes, accessing to information, services, courses and work, and promoting interaction and communication. However, users have very different application usage habits from one another and the data collection instruments that typically support this type of study are usually based on the users' reported perceptions. Several authors mention that other type of studies is needed to adequately support this type of research. Therefore, it is important to identify which applications are used, their type of use, whether their uses vary according to the context and also to understand if the real and perceived use are equivalent. Based on an exploratory approach, this study aims to analyze the use of mobile applications by students at the University of Aveiro, comparing the use reported by students with data of actual use. It also aims to analyze potential differences in the use of these applications/services according to variables such as the type of classes (theoretical/practical/theoretical/practical/laboratory), scientific area (exact sciences/social sciences), study cycle (undergraduate/masters/doctoral) and timetable (morning/afternoon). The study has a mixed approach that includes non-participant observation, the application of a questionnaire and the analysis of usage logs. The main contributions of this research are the theoretical framework produced, the methodological approach used, with the cross-analysis of data collected through questionnaires with data of effective use (logs) and with the data collected by the researcher through observation grids. This allows a more unbiased assessment of the users' profiles, which will help to identify potential discrepancies between self-perception and the effective use of mobile devices and applications, aiming to extend the knowledge of the use of mobile devices in the context of higher education. The results obtained show that, during classes, in this study, there is a use of mobile applications and devices, namely smartphones, which seems quite significant to us. This use is essentially made from smartphones and laptops and the most frequently used applications are Instagram, Messenger, Youtube, E mail and Facebook. This perception seems to be confirmed in the logs, although it should be noted that Facebook has a more intensive use than the one reported in the questionnaires and that there is a huge tendency to use social networks during lessons. We also concluded that there are differences in use according to the area of study, typology of classes and timetable. As final conclusions of this work, in addition to answering the research questions concerning the use of mobile applications in higher education, in the case analyzed, a set of recommendations to teachers are presented, as well as a possible model for measuring the use of mobile devices by students in HEIs. As far as the recommendations to the teachers are concerned, the results obtained allow us to verify that a large majority of the students consider that there should be a higher integration of mobile applications during the classes, and that this integration becomes even more relevant in the higher levels of education, i.e., masters and doctorates. The data collection methodology implemented in this study, which ensures the total anonymity of the users, can contribute to the creation of alert systems based on the analysis of access logs in real time, allowing HEIs to create mechanisms for the implementation of Learning Analytics that may prove to be an important innovation in pedagogical practices.