Do A ao Ω: caminhos da massificação cultural através da ideia do Deus que aceita morrer

Abstract

Com o trabalho aqui apresentado, pretendemos compreender como se processou a massificação cultural de um dos fenómenos mais importantes da mitologia antiga, a morte e ressurreição de um deus, aspeto fundamental na construção do monoteísmo cristão. Metodologicamente, usaremos a comparação e dividimos a realidade analisada em dois grandes grupos: Idade do Bronze e Idade do Ferro, uma correspondente a uma sociedade fechada e a outra com um universo democratizado e globalizado possível após a explosão das expansões grega e fenícia, e com a invenção da escrita alfabética muito mais acessível. Partimos de quatro ciclos mitológicos da Idade do Bronze (referentes a Gilgameš, Inanna, Osíris e Baal) para compreender como se construiu a inevitabilidade dessa temática nestes grandes ciclos, tratando alguns dos aspetos simbólicos mais importantes (a descida ao Mundo Inferior, a Morte, a luta primordial, o Caos, o banquete sacrificial e a ressurreição, a par do paralelo ideológico com a própria de monarca e de monarquia). Na Idade do Ferro, num contexto cultural onde emerge o indivíduo numa relação muito mais forte com a divindade, percebendo-se a chegada dos anseios de imortalidade, veremos vários textos que nos mostram como se popularizaram os conteúdos tratados para a Idade do Bronze, mas agora já fora das paredes dos palácios, perto dos portos comercias, e das novas dinâmicas populacionais. Desaguamos na figura de Jesus e na forma como alguns elementos se consolidaram ao longo de milénios e se encontram reunidos também nas narrativas do messias cristão, funcionando, plenamente, como uma metodologia semântica de transmissão cultural, de evangelização mediante a língua religiosa que era esta simbologia da morte, então tão transversal ao Mediterrâneo.

With the work here presented, we intend to unravel the process of cultural massification of one of the most important phenomena of old mythology: the death and resurrection of a god, one fundamental feature in the erection of christian monotheism. Methodologically, we'll resort on a comparison between two big groups in which we divide the reality we'll analyze: the Bronze Age and the Iron Age. The first corresponds to a closed society, whereas the in the second we find a democratized and globalized universe, a reality only possible due to the explosion of Greek and Phoenician explorations, and to the invention of the more accessible alphabetic writing. We'll depart with four Bronze Age mythological cycles (which refer to Gilgameš, Inanna, Osir and Baal) to comprehend how the inevitability of the death in these great cycles was built, managing some of the most important symbolic aspects (the fall to the underworld, death, the primordial fight, Chaos, the sacrificial banquet and the resurrection, alongside with the ideological parallel of the own idea of monarch and monarchy). In the Iron Age, we find a cultural context from which emerges a much stronger bond between the individual and the divinity. Here, after we perceive the arrival of the aspiration for immortality, we'll notice multiple texts that reveal how the Bronze Age mythological content was popularized, but now beyond the walls of the palaces: near the commercial harbors and the new populational dynamics. We end up in the figure of Jesus, and in the way some mythological elements consolidated throughout the millenniums can be found reunited under the narratives of the christian messiah, operating fully as a semantic methodology of cultural transmission, an evangelization through this religious idiom: the symbology of death, then already so widespread in the Mediterranean.