Dinâmica anual de Pseudo-nitzschia spp. (Bacillariophyceae) nos canais de Mira, Ílhavo e das Pirâmides: primeira contribuição para o conhecimento de potenciais produtores de ácido domoico na Ria de Aveiro

Abstract

A intoxicação conhecida como Amnesic Shellfish Poisoning (ASP) resulta da ingestão de bivalves ou outro alimento de origem marinha contaminado pela neurotoxina ácido domoico. Os organismos responsáveis pela introdução da toxina nas cadeias tróficas aquáticas são algas do grupo das diatomáceas (Bacillariophyceae), em particular espécies do género Pseudonitzschia. Foram efectuadas colheitas semanais em vários locais ao longo dos canais principais da zona sul da Ria de Aveiro, de Fevereiro a Outubro de 2000, e as amostras estudadas, em microscopia óptica e electrónica, quanto à presença de espécies de Pseudo-nitzschia. O estudo qualitativo foi complementado com a análise quantitativa de amostras quinzenais. Foram identificadas sete espécies de Pseudo-nitzschia: P. australis, P. delicatissima, P. fraudulenta, P. pseudodelicatissima, P. pungens, P. subpacifica e P. cf. turgidula. Destacou-se P. australis, quer pela sua abundância em algumas épocas (com um máximo de mais do que 60000 células/L em 10 de Agosto), quer pela sua dispersão ao longo da área de estudo e ao longo do ano, quer por ser uma produtora activa de ácido domoico, o que foi confirmado em cultura iniciada com material da Ria de Aveiro. Ocorreram também regularmente, e pontualmente com abundância, P. pungens e, em menor grau, P. delicatissima. A penetração e sobrevivência de Pseudo-nitzschia ao longo dos canais parece estar limitada a zonas onde predomina a influência da água marinha. A salinidade parece, assim, um factor preponderante na viabilidade destes organismos. Isso mesmo foi verificado em cultura para P. subpacifica, P. delicatissima e P. pungens. Com base nas observações acerca da ocorrência de Pseudo-nitzschia, em particular P. australis, ao longo dos canais estudados, é possível identificar uma zona de risco potencial de contaminação por ácido domoico dentro da Ria de Aveiro. Dentro desta zona encontra-se bem estabelecida a cultura de bivalves, bem como outras aquaculturas, o que pode resultar em incidentes de ASP com ocorrência periódica.

The syndrom Amnesic Shellfish Poisoning (ASP) is the result of ingesting sea food contaminated by a neurotoxin, domoic acid. The responsible organisms for the production of this toxin are diatoms (Bacillariophyceae) belonging to the genus Pseudonitzschia. Samples were taken weekly from several localities in the southern canals of Ria de Aveiro (Portugal), from February to October 2000, and searched for the presence of Pseudo-nitzschia species by light and electron microscopy. Quantitative analyses were also performed every fortnight. Seven species of Pseudo-nitzschia were identified: P. australis, P. delicatissima, P. fraudulenta, P. pseudodelicatissima, P. pungens, P. subpacifica and P. cf. turgidula. Prominent among these was P. australis, both because it occurred over most of the sampling period in most localities, sometimes in high numbers (over 60000 cells/L in 10 August), and for its demonstrated propensity to produced high quantities of domoic acid, which was confirmed for isolates from Ria de Aveiro. Two other species, P. pungens and P. delicatissima, were also found regularly during the sampling period, the former occasionally forming large populations. How far Pseudo-nitzschia species reach within the estuary and how long they survive in it seem to be under the direct influence of seawater movement. The influence of salinity in the viability of these organisms was verified in culture for P. subpacifica, P. delicatissima and P. pungens. The observed distribution of Pseudo-nitzschia species, particularly P. australis, within the lagoon sugests a potential risk area for contamination with domoic acid in Ria de Aveiro. The existence of wellestablished aquaculture farms (for bivalves and others) within this zone may result in recurrent ASP episodes, and requires monitoring for domoic acid and Pseudo-nitzschia.