Gestão curricular e cultura de escola: relação entre as dimensões curriculares instituída e instituinte

Abstract

Este estudo cabe no âmbito da reflexão sobre as questões de desenvolvimento, gestão e supervisão curriculares, enquanto instrumentos passíveis de facilitar a construção de uma identidade colectiva na escola e, assim, poder promover a emergência de uma cultura curricular própria. São pressupostos desta possibilidade, por um lado, as competências reflexivas dos profissionais (professores e outros participantes na acção educativa) e o seu nível de consciencialização quanto aos modos de usar as margens de autonomia que a flexibilização curricular actualmente permite. Por outro lado, a emergência de uma cultura tem também a ver com as suas concepções, quanto ao papel da escola e dos outros agentes educativos menos institucionalizados e quanto às possibilidades de congregar os seus esforços num sentido comum, que tenha como objectivo a melhoria da qualidade das práticas educacionais. Isto é, depende também do reconhecimento que a ecologia de cada escola constitui um poderoso factor explicativo e facilitador da compreensão integrada dos problemas dos alunos e uma verdadeira e rica fonte de recursos, se consideradas as potencialidades das transições ecológicas. Por fim, a cultura decorrente das práticas enquanto dimensão curricular instituinte está também dependente do esforço mobilizador das lideranças, da sua aceitação pelo colectivo e da coerência entre os diferentes tipos e níveis de participação. Por isso, neste trabalho, se procurou conhecer de forma aprofundada e para uma determinada instituição cuja cultura curricular já tem algum reconhecimento público, quais as dinâmicas e quais as concepções que as fundamentam e que se admitem poder estar na base da emergência desta cultura diferenciada. Do ponto de vista metodológico, o estudo foi desenvolvido segundo uma metodologia de natureza qualitativa e interpretativa que cruzou informação recolhida aos diferentes níveis ecológicos (intra e extraescolares) e junto de elementos representativos do colectivo que constitui a escola. As técnicas utilizadas variaram de acordo com a natureza respectiva da informação recolhida tendo os instrumentos de recolha (questionários e entrevistas) e de tratamento da informação sido validados de acordo com a sua especificidade. O sistema de categorias para realizar a análise de conteúdo da informação recolhida foi elaborado no cruzamento das perspectivas subjacentes ao enquadramento teórico do estudo e da emergência, na própria informação, de indicadores relevantes na compreensão do objecto de estudo. As conclusões mais genéricas apontam no sentido de se confirmar que quando os pressupostos adiantados se verificam, efectivamente, surgem culturas de desenvolvimento e gestão curriculares próprias, que contribuem para definir uma identidade socialmente reconhecida. Dessa cultura sobressaem a importância: a) das concepções dos professores enquanto profissionais responsáveis pela natureza e qualidade das práticas curriculares; b) do papel das lideranças na gestão, coordenação e motivação das equipas; c) da qualidade de reflexão, quer a nível pessoal e individual, quer sobretudo colectiva, subjacente à elaboração do projecto educativo de escola e dos planos de intervenção curricular diferenciada, condição tida como indispensável ao(s) processo(s) de desenvolvimento a todos os níveis; d) do clima afectivo-relacional e de grande implicação no desafio de responder às necessidades e interesses dos alunos enquanto primeiros destinatários de todo o processo aqui descrito e reflectido. O estudo, ao identificar também algumas das zonas conceptuais às quais os próprios participantes fazem referência, deixa-as em aberto para futuros desenvolvimentos, quer a nível da própria escola, quer da continuação da investigação sobre a relação entre as dimensões curriculares instituída e instituinte. Ou seja, sobre o papel e novas funções do Professor do 1.º Ciclo do Ensino Básico.

This study falls within the ambit of thought on questions of curriculum development, management and supervision to the extent that these are passive instruments which can be used to facilitate the construction of a collective identity in the school and thus promote the emergence of a singular curricular culture. The assumptions of this possibility include, on one hand, that professionals (teachers and other participants in education) reflect and analyse, and that they possess a certain level of awareness of the ways to make use of the limits of autonomy that current curricular flexibility permits. On the other hand, the emergence of a culture is also linked to the conceptions of education professionals about the role of the school and of other less institutionalised education intermediaries, and to the possibilities that exist of motivating a collective effort towards the objective of improving the quality of educational practices. Thus the construction of a collective identity depends also on the recognition that the ecology of each school constitutes a powerful explanatory and facilitating factor of an integrated comprehension of the problems of the students and a truly rich source of resources, if the potentialities of ecological transitions are taken into account. Finally, a culture emanating from practices (insofar as the curricular dimension institutes culture), is also dependent upon the mobilising power of leadership, of how it is accepted by the collective, and upon the coherence between the various types and levels of participation. Therefore, in this study, an attempt was made to learn extensively, for a particular institution where the curricular culture has already received some public recognition, what are the underlying dynamics and conceptions that can be said to be at the root of the emergence of this differentiated culture. From a methodological standpoint, the study was developed according to a qualitative and interpretative methodology that crossed information gathered at various ecological levels (intra and extra-school) and gathered from individuals who can be said to represent the school collective. The techniques used varied according to the nature of the respective information to be gathered, and the information gathering instruments (questionnaires and interviews) and information handling tools were validated according to their specificity. The system of categories used to carry out the content analysis of the information gathered was elaborated by crossing the subjacent perspectives with the theoretical background of the study. From here emerged the relevant indicators for understanding the object of study. The most general conclusions point towards a confirmation that given the assumptions outlined earlier, individual cultures of curricular development and management emerge, which contribute to the definition of a socially recognised identity. The following aspects of this culture are of particular importance: a) the conceptions of teachers in their capacities as professionals responsible for the nature and quality of curricular practices; b) the role of leadership in management, co-ordination and motivation of teams; c) the quality of reflection at the personal and individual level and above all at the collective level. This latter is subjacent to the elaboration of the school's education philosophy and to the plans for differentiated curricular intervention - a condition taken as indispensable to the process(es) of development at all levels; d) the affective-relational climate and the enormous implication there is in the challenge to respond to the necessities and interests of the students who are the prime targets of the entire process described and considered here. This study, while identifying some of the conceptual areas to which the participants themselves refer, leaves them open to future developments either at the level of the school itself or in research into the relation between the instituted and instituting curricular dimensions i.e. research into the role of the new functions of the 1st Cycle Teacher of Basic Education.