Sensibilização à diversidade linguística: que lugar nos currículos de formação inicial de professores do 1º ciclo do ensino básico?

Abstract

O presente estudo é o resultado de um projecto em supervisão com o qual se pretende realçar a relevância de uma sensibilização para a diversidade linguística no âmbito da formação inicial de professores do 1º ciclo do Ensino Básico. Através da análise de 203 planos de estudo de disciplinas da área das Línguas e Literaturas, das Ciências da Educação e da Prática Pedagógica, procurámos compreender até que ponto, estas orientações curriculares focam questões de abertura e respeito pela diferença e pela diversidade linguística, e até que ponto estão os formandos a ser preparados para desenvolver a temática da diversidade linguística com as crianças, nos contextos educativos. A interpretação do texto dos programas permitiu-nos constatar uma notória preocupação, por parte das escolas de formação, em preparar os futuros professores para se assumirem como agentes de mudança no sentido de participarem na construção uma sociedade mais tolerante, mais compreensiva e mais plural. Pudemos também verificar a existência de uma visão muito monolítica do domínio da aprendizagem de línguas, isto é, de forma geral, o trabalho realizado com as línguas cinge-as à sua função mais utilitária e pragmática. No dizer dos textos é evidenciado o potencial comunicativo das línguas mas são poucas as referências ao papel que a sensibilização à diversidade linguística pode assumir na formação pessoal e social dos sujeitos, no que concerne o desenvolvimento de atitudes, capacidades e competências que ultrapassam o domínio meramente linguístico-comunicativo. Os resultados da nossa análise sugerem, a nosso ver, que os currículos das escolas de formação analisadas contemplam o tratamento da diversidade linguística. No entanto, pensamos que o espaço que lhe é destinado nos textos programáticos poderia assumir uma presença mais visível no sentido de permitir uma maior consciência da importância que as línguas podem desempenhar na formação de cidadãos que respeitam e aceitam a diversidade e a especificidade de cada um, cidadãos preparados para a coabitação em sociedades cada vez mais plurais.

This study is the result of a project in supervision with which we intended to emphasise the relevance of the approach of the Sensitization to Linguistic Diversity on the Initial Formation of Primary Teachers. We analysed 203 programs of the Initial Formation of Primary Teachers, from Public Superior Schools of Education, divided in three curriculum areas: Languages and Literature, Educational Sciences and Teacher Training. With this analysis we tried to grasp the importance given on these curricular guides to questions of opening and respect towards difference and linguistic diversity. We also tried to understand how far student teachers are being prepared to face and develop the issue of linguistic diversity with children in educational contexts. The textual interpretation of the school syllabus allowed us to conclude that students are being prepared to assume themselves as agents of change in the sense that they can participate in the construction of a more tolerant, comprehensive and plural society (towards difference and diversity). Although we also noticed that there is still a very monolithic vision in what the domain of learning languages is concerned. In the texts that we analysed there is a clear evidence of the communicative potential of languages. However, there are few references to the role that languages and their diversity may assume in the individuals’ personal and social formation, concerning the development of attitudes, capabilities and competences that exceed the communicativelinguistic domain. The results briefly presented here, suggest that the question of linguistic diversity is being treated in the analysed Educational Schools, although, the space given to it should be, in our opinion, more visible. This way we will be forming engaged citizens that respect and accept diversity and the individuality of each one, citizens prepared for the cohabitation in a more and more plural society.