Capacidade de troca catiónica no cretácico de Aveiro e sua influência no quimismo da água

Abstract

Na região de Aveiro existem dois sistemas aquíferos: o Quaternário e o Cretácico. O primeiro sistema, superficial, foi intensamente explorado até à década de 60, devido a sua elevada produtividade e acesso fácil. Dada a vulnerabilidade destas formações a fenómenos de contaminação e, também devido a própria qualidade química das suas águas, a exploração deste sistema tem vindo a decrescer, o que trouxe como consequência o aumento da exploração do sistema Cretácico. O sistema Cretácico, na região de Aveiro, pode considerar-se formado por três conjuntos multicamada, com distinta piezometria e produtividade, constituídos essencialmente por formações gresosas com intercalações argilosas. A complexa série sedimentar cretácica assenta quase sempre sobre o complexo xisto-grauváquico, iniciando-se pelo Grés da Palhaça (cI-~), que sob o ponto de vista hidrogeológico se pode subdividir em três partes. As duas inferiores, pouco permeáveis, são consideradas como dois conjuntos aquíferos multicamada, enquanto que a parte superior, muito mais permeável, se considera pertencente a outro conjunto. Ao Grés da Palhaça sobrepõe-se a Formação Carbonatada (c2), seguida pelo Grés Micáceo (c3) e, depois, pelo Grés de Oiã (c3-4). Estas três unidades, em conjunto com a parte superior do Grés da Palhaça constituem o terceiro conjunto aquífero multicamada, de onde se explora a água de melhor qualidade química de todo o sistema. A série sedimentar cretacica continua com o Grés de Verba (c4), unidade considerada como um aquitardo seguindo-se, por fim, as Argilas de Aveiro (c5), impermeáveis, que constituem o tecto deste sistema multiaquífero. O terceiro conjunto multicamada é designado por Conjunto Aquífero Principal. A série cretácica apresenta uma estrutura geral em sinclinal, algo assimétrica, em que as camadas mergulham suavemente para NW. O tecto argiloso, constituído pelas Argilas de Aveiro, desenvolve-se pela porção submarina, continuando a proteger as unidades subjacentes permeáveis. Desconhece-se no entanto, até onde esta protecção se verifica, já que são muito escassos os dados relativos ao "off-shore". Quanto aos parâmetros hidraúlicos, os valores de transmissividade apresentam uma certa variação espacial: menores na parte Norte, aumentando na parte central e na área de Cacia-Esgueira. Os valores mais baixos encontram-se a Oeste de Aveiro-Ílhavo, possivelmente devido a uma importante mudança de fácies nessa faixa. Os conjuntos inferiores são muito inenos permeáveis do que o Conjunto Aquífero Principal. Os valores do coeficiente de armazenamento são bastante homogéneos em quase toda a área, da ordem de 10-4, verificando-se no entanto que os mais elevados são os do bordo Oriental e, os mais baixos, na parte Norte do sector vagos-Ílhavo. Como resultado da intensa exploração do sistema aquífero Cretácico observa-se um decréscimo significativo dos níveis piezométricos, principalmente nas áreas de maior consumo, na região Aveiro-Cacia e também na zona das Gafanhas. Verifica-se ainda que existe inversão local do sentido do fluxo natural, que, numa perspectiva futura, poderá conduzir a problemas de intrusão marinha na faixa litoral. Verificam-se diferenças nas características químicas das águas do Cretácico quando se comparam as composições químicas das amostras procedentes da zona de recarga do aquífero, com as de outras recolhidas junto ao litoral. Esta evolução hidrogeoquímica, desde a área de recarga até à linha de costa, segundo a direcção geral de fluxo SE-NW, é caracterizada fundamentalmente pelo abrandamento da água explorada junto ao litoral, ou seja, pela diminuição dos teores de cálcio e magnésio, acompanhada pelo aumento dos teores em sódio. Assim, definem-se duas fácies hidrogeoquímicas: uma, na parte oriental, bicarbonatada cálcica ou calco-sódica e, outra, na parte mais ocidental, cloretada sódica. Dada a natureza da matriz do sistema inultiaquífero, essencialmente gresosa com intercalações argilosas, supõe-se que a composição químnica da água terá sido influenciada por fenómenos modificadores como a troca catiónica.