Caçadores de sons: para uma pedagogia da escuta e da exploração sonora na primeira infância

Abstract

Os “Estudos do Som” são, atualmente, uma área do saber bem definida e bem estabelecida, apresentando-se como um campo interdisciplinar que se foca no som como ponto de partida para uma análise transversal ao vasto mundo das práticas sonoras humanas e dos discursos e instituições que a elas se referem (Sterne, 2012). Acompanhando este desenvolvimento, também a música, no decorrer da sua evolução, progrediu no sentido de uma mudança paradigmática que “contribuiu profundamente para esta ‘refocalização’ no som”, caracterizada essencialmente por um movimento que progride desde “uma cultura musical centrada na nota”, em direção a “uma cultura do som” (Solomos, 2020, p. 5-6)., Ao nível musical, no mundo Ocidental, esta evolução precipitou uma transformação em que o próprio conceito de música – ligado a uma tradição predominantemente Eurocentrica (Recharte, 2019) - é posto em causa, no sentido da procura de uma “sound-based music” (Landy, 2007), mais aberta e alargada, que cruze diversos géneros e estilos e passe a considerar, como matéria de criação, todo o universo sonoro que nos rodeia. Partindo destas ideias, este projeto procurara desenhar, através de uma investigação-ação desenvolvida com 13 crianças entre os 2 e os 5 anos de idade num contexto educativo não formal, que consequências se poderão desenhar no corpo teórico e prático da Educação Musical na primeira infância quando tomamos em linha de conta esta mudança de paradigma. Mais especificamente, o projeto propõe-se a implementar e avaliar um conjunto de estratégias e ferramentas que possam potenciar o desenvolvimento de uma pedagogia do som, centrada na escuta e na experimentação sonora, que questione criticamente a própria ideia de música e possibilite conceções alternativas. Trata-se portanto de um projeto que procura emancipar as crianças de conceções apriorísticas do que é considerado musicalmente válido, e que assenta em duas premissas essenciais: A de que todas as pessoas são capazes de fazer música e de se tornarem musicalmente capazes, independentemente da idade, sexo, condição física ou social, e a de que a pedagogia musical deve convergir, hoje, em direção ao uma prática que inclua todo o espetro sonoro que nos rodeia, numa perspetiva inclusiva e aberta, na procura de criar sentido para os diversos mundos sonoros que habitamos e aos quais damos vida.

Today, "Sound Studies" is a well-defined and well-established area of knowledge, presenting itself as an interdisciplinary field that focuses on sound as a starting point for an analysis of the vast world of human sound practices and the discourses and institutions that refer to them (Sterne, 2012). Accompanying this development, music performance and creation has also progressed towards a paradigmatic shift that has "profoundly contributed to this 'refocusing' on sound", essentially characterised by a movement that progresses from "a musical culture centred on the note" towards "a culture of sound" (Solomos, 2020, p. 5-6). At a musical level, in the western world, this evolution has precipitated a transformation in which the very concept of music - linked to a predominantly Eurocentric tradition (Recharte, 2019) - has been called into question in the search for a "sound-based music" (Landy, 2007), crossing different genres and styles and considering the entire universe of sounds around us as creative material. Departing from these ideas, this project, developed through an action research design with 13 children aged between 2 and 5 years old in a non-formal educational context, seeks to identify possible consequences for Music Education research and practice when we take this paradigm shift into account. More specifically, the project seeks to evaluate a set of strategies and tools that might foster a sound pedagogy centred on listening and sound experimentation, and that might critically question the very idea of music. It is therefore a project that seeks to emancipate children from aprioristic conceptions of what is considered musically valid, and which is based on two essential premises: That all people are capable of making music regardless of age, gender, physical or social condition, and that contemporary music pedagogy should converge towards a practice that includes the entire sound spectrum that surrounds us, embracing an inclusive and open perspective, in the quest to create meaning for the diverse sound worlds that we inhabit and give life to.