Revisitando Medeia: uma visão sobre o contexto da apresentação da tragédia pelo TEUC na década de 1950 e a música de cena de Victor Macedo Pinto

Abstract

Apresentada nas Grandes Dionísias de 431 a. C., a Medeia de Eurípides tem inspirado inúmeras manifestações artísticas ao longo da história, cruzando domínios como o do teatro, da música, da dança e das artes plásticas (Griffiths 2006), e agitando o debate em torno das motivações da protagonista e da temática da tragédia. No contexto português, Medeia foi levada a cena pela primeira vez, na versão traduzida para a língua portuguesa por Maria Helena da Rocha Pereira, na noite de 8 de junho de 1955, em Coimbra, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), sob a direção artística de Paulo Quintela e com música de Victor Macedo Pinto (Pereira 1955). Esta comunicação incide sobre o contexto ligado à estreia da tragédia em Portugal na década de 1950, com especial enfoque na música de cena composta por Macedo Pinto, e apresenta os seguintes objetivos: 1) compreender o percurso histórico e artístico do TEUC e as circunstâncias sociais, políticas e estéticas conducentes à sua incursão no teatro grego; 2) analisar o papel da música na encenação de Paulo Quintela e a sua articulação com os restantes elementos dramáticos; 3) identificar marcas estilísticas e performativas da obra de Macedo Pinto, discutindo formas de integração da componente musical na peça. Este trabalho partirá de um enquadramento da atividade artística do TEUC na conjuntura social e política da época, com base nas descrições de José Oliveira Barata (2009), assim como de um levantamento das apresentações históricas da peça pelo grupo teatral em Portugal e no estrangeiro, registadas em livros de recortes de imprensa arquivados na sala da direção deste organismo autónomo, localizada no edifício da Associação Académica de Coimbra. Com recurso ao livro de Barata (2009) e à entrevista realizada ao autor em 2023, procurar-se-á analisar as opções estéticas tomadas por Quintela, no que respeita ao tratamento do texto e à relação entre a música e a componente cénica. A edição crítica da obra de Macedo Pinto, realizada a partir das fontes recolhidas no espólio do compositor, ao cuidado da Sociedade Portuguesa de Autores, possibilitará a identificação e exploração de características performativas e de linguagem, conduzindo à discussão da posição da música na peça e do seu diálogo com outros elementos teatrais, como a luz, o cenário, o gesto ou o texto. O conhecimento dos contextos e metodologias adotadas na década de 1950 e a visão crítica sobre estas questões permitirão reunir dados relevantes para o futuro trabalho de recriação da tragédia de Eurípides, potenciando simultaneamente a divulgação da música de cena de Macedo Pinto.