Processo de diagnóstico de doença profissional musculosquelética: um estudo de carácter misto sobre a perspetiva dos trabalhadores

Abstract

Introdução: A emissão da declaração de que um trabalhador tem doença profissional (DP) e respetiva percentagem de incapacidade podem atuar como facilitadoras da cronificação da dor com impacto negativo na autoeficácia do trabalhador. O objetivo deste estudo foi o de caracterizar o processo de diagnóstico de DP musculosquelética na perspetiva dos trabalhadores e identificar as suas crenças, estratégias de adaptação, preocupações e necessidades em termos de cuidados de saúde em geral e fisioterapia em particular. Métodos: Estudo de caráter misto com recurso a entrevistas individuais semi-estruturadas, e escalas validadas para a população portuguesa. nomeadamente o Inventário Reduzido da Dor, Inventário de Sensibilização Central, Escala de Ansiedade e Depressão de 21 itens e Escala de Catastrofização da Dor. A estatística descritiva foi usada para analisar os dados quantitativos e os dados qualitativos foram alvo de uma análise de conteúdo. Resultados: A intensidade da dor (média±SD) foi de 6.2±0.4 e a interferência da dor foi de 6.5±0.5. O Inventário de Sensibilização Central indicou que 33% dos participantes apresentavam sintomas moderados e igual número apresentava sintomas extremos. A análise das entrevistas revela que a DP tem um impacto negativo na pessoa, no seu-dia-a-dia e no seu trabalho; que o processo de diagnóstico de DP é longo e pouco centrado na pessoa, gera sentimentos de frustração e injustiça; a informação e apoio dados aos trabalhadores são percebidos como insuficientes e os cuidados prestados de baixa qualidade. Conclusões: Os resultados indicam a necessidade de repensar a atuação dos profissionais de saúde nos seus vários ramos, uma vez que não parecem prestar cuidados centrados na pessoa. É necessária mais informação e mais estudos sobre esta população.

Introduction: Issuing a declaration that a worker has an occupational disease and the respective percentage of disability can act as facilitators of pain chronification, negatively impacting the workers' self-efficacy. The objective of this study was to characterize the process of diagnosing musculoskeletal occupational disease from the perspective of the workers and describe their beliefs, adaptation strategies, concerns and needs in terms of health care in general and physiotherapy in particular. Methods: Mixed methods study using semi-structured individual interviews, a sociodemographic questionnaire, and scales validated for the Portuguese population, namely the Brief Pain Inventory, Central Sensitization Inventory, 21-item Anxiety and Depression Scale and Pain Catastrophizing Scale. Descriptive statistics were used to analyze quantitative data and qualitative data was subject to a thematic content analysis. Results: All participants reported pain at the time of applying the questionnaires and the interview. Mean (±SD) pain severity was 6.2±0.4 (mean±sd) and mean pain interference was 6.5±0.5. The Central Sensitization Inventory indicated that 33% of participants had moderate symptoms and an equal number had extreme symptoms. The analysis of the interviews revealed that occupational disease has a negative impact on the person, on their day-to-day life and on their work; the diagnosis process is long and not person-centered, generating feelings of frustration and injustice; the information and support given to workers are perceived as being insufficient and the care provided of low quality. Conclusions: The results suggest the need to rethink the role of health professionals as they are not perceived as applying a person-centered approach. More information and more studies are needed on this population