Barreiras ecológicas e sociais à expansão e estabelecimento do urso-pardo (Ursus arctos) em Portugal

Abstract

Nos últimos anos, o urso-pardo da região Cantábrica tem demonstrado uma capacidade de resiliência a vários níveis. Este facto tem-se refletido no aumento do número de indivíduos e no aumento da sua área de distribuição. Se esta tendência se mantiver, é possível que se venha a registar a presença do urso-pardo noutras regiões, como foi o caso da incursão de um jovem macho oriundo destas subpopulações no norte de Portugal em 2019. Atendendo à capacidade do urso-pardo em percorrer vastas áreas, foi necessário compreender que características do seu habitat influenciam a sua presença. Além disso, foi necessário aplicar questionários de modo a compreender as atitudes que as pessoas têm em relação à presença do urso-pardo, conferindo assim uma componente social ao estudo realizado. Este estudo permitiu ter um conhecimento preliminar das componentes que explicam a presença do urso-pardo na cordilheira Cantábrica, e que regiões têm potencialidade para que esta espécie ocorra. Para isso fez-se um levantamento das variáveis ecológicas que reconhecidamente influenciam a presença do urso, ao nível do uso do solo, do clima e da topografia, que foram avaliadas em três escalas espaciais distintas (500, 1000 e 2000 metros). Os principais resultados da modelação ecológica corroboram estudos anteriores. O modelo mais parcimonioso sugere que as áreas florestais e arbustivas influenciam positivamente a presença do urso-pardo, enquanto a precipitação anual, o relevo e as linhas de água influenciam negativamente a presença mesmo. Foi possível ainda verificar a presença de dois possíveis corredores ecológicos Espanha-Portugal para esta espécie. No que diz respeito às atitudes, foi elaborado um questionário que foi disseminado a posteriori em duas regiões da área de estudo. Aqui verificou-se que as zonas com ocorrência de urso-pardo em Espanha (ZUE) as pessoas apresentavam atitudes mais positivas, enquanto nas zonas com potencialidade de ocorrência do urso-pardo verificou-se que as pessoas se apresentaram como tendo atitudes mais negativas para com o urso-pardo. Combinando o melhor modelo ecológico com o índice de atitudes, os resultados sugeriram que nas regiões com reduzida favorabilidade ecológica, as pessoas apresentavam atitudes mais positivas. Todavia, para obter um estudo mais robusto, de forma que as ações de conservação sejam mais eficientes, é necessário a reprodução de estudos deste cariz em profundidade, aplicados de forma longitudinal, aumentando o número de variáveis a testar, incluindo as que são impermeáveis à dispersão do urso ou que envolvam atividades lucrativas para o homem, bem como ações de sensibilização e deslocações à área de estudo para garantir uma maior representatividade da amostragem social.

In recent years, the brown bear of the Cantabrian region has demonstrated an important capacity of resilience at various levels. This has been reflected in the increase, both in number and distribution, of the brown bear population. If this trend continues, it is possible that brown bear will be present in other areas, as the incursion of a young male from these subpopulations in northern Portugal in 2019. Considering the displacement capacity and spatial ecology of brown bear, it is necessary to understand which characteristics of its habitat drive its presence. Moreover, it is necessary to apply questionnaires to understand the attitudes of people towards the brown bear. This study allowed us to have a preliminary knowledge on the components that explain the presence of the brown bear in the Cantabrian Mountain range, and which regions have the potential for this species to occur. A survey of the ecological variables that could influence the presence of the brown bear was carried out. The influence of land use, climate and topography was modelled at three different scales (500, 1000 and 2000 meters). The main results of the ecological modelling corroborate previous studies. The most parsimonious model suggests that forest and bush areas positively influence the presence of the brown bear, however, annual rainfall, relief and water lines negatively influence its presence. It was also possible to verify two possible ecological Spain-Portugal corridors for this species. Regarding attitudes, a questionnaire was prepared and disseminated in two regions of the study area. Here, it was found that in the areas of brown bear occurrence in Spain (ZUE) people had more positive attitudes, while in the areas with potential occurrence of the brown bear the people have more negative attitudes towards the species. Combining the best ecological model with the attitude index, the results suggested that in regions with low ecological favorability, the people had more positive attitudes. However, to obtain a more robust study, so that conservation actions are more efficient, it is necessary to reproduce studies of this nature in depth, applied longitudinally, increasing the number of variables to be tested, including those that are impermeable to the dispersal of the bear or that involve profitable activities for man, as well as awareness-raising actions and displacements throughout the study area to increase the representativeness of social component.