A gestão discricionária dos inventários: o caso das PME portuguesas

Abstract

O presente trabalho de investigação foi desenvolvido tendo por base: a perceção de que os inventários são um dos ativos mais importantes no ciclo operacional das empresas dos setores comercial e industrial; que as empresas portuguesas se classificam, maioritariamente, como Pequenas e Média Empresas; e que os gestores utilizam a informação financeira para dar resposta aos stakeholders com que interagem. Com os pressupostos enunciados em mente o objetivo deste trabalho foi proporcionar conhecimento sobre a utilização dos inventários para a gestão discricionária dos resultados. Para além destes pressupostos o presente trabalho teve como base a teoria da agência, a teoria positiva da contabilidade e a teoria do interesse próprio que permitiram enunciar as hipóteses descritas. Foi analisada uma amostra de empresas que inclui 30.797 do setor comercial e 17.094 do setor industrial que dispunham de informação disponível no período compreendido entre 2013 e 2019 na base de dados SABI. Foi utilizada a adaptação da metodologia quantitativa usada por Dechow et al. (1995) e Roychowdhury (2006) com dados em painel. Numa primeira fase, realizou-se o estudo da suspeição da utilização de discricionariedade sobre os accruals e sobre os fluxos de caixa, sobre o custo da mercadoria vendida (CMV), e sobre o volume de inventários detidos pelas empresas. Segui-se o estudo da discricionariedade incluída na gestão dos inventários das empresas e a sua relação com itens contabilísticos como dívidas a receber, dívidas a pagar, imposto e resultados contabilísticos. Os resultados obtidos confirmam o pressuposto fundamental das teorias: quando existe conflito de interesse o gestor procura atuar de forma a maximizar o seu bem-estar recorrendo à discricionariedade. A discricionariedade provoca alterações deliberadas na realidade económica e financeira das empresas e, consequentemente, nas demonstrações financeiras que são o elemento de suporte à tomada de decisão, por esse motivo é provocada, deliberadamente, assimetria de informação entre o proprietário e os demais stakeholders. Os resultados também confirmam a utilização de inventários para introduzir discricionariedade nos accruals e nos fluxos de caixa permitindo obter os resultados líquidos desejáveis e maximizando o bem-estar do gestor.

This research was developed based on the following: the perception that inventories are one of the most important assets in the operational cycle of companies in the commercial and industrial sectors; that Portuguese companies are mostly classified as Small and Medium-Sized Enterprises; and that managers use financial information to respond to the stakeholders with whom they interact. With the mentioned assumptions in mind, the objective of this work was to provide knowledge about the use of inventories for discretionary earnings management. In addition to these assumptions, this work was based on agency theory, positive accounting theory, and self-interest theory, which allowed the formulation of the described hypotheses. A sample of companies was analysed, including 30,797 from the commercial sector and 17,094 from the industrial sector, with available information between 2013 and 2019 from the SABI database. The study used an adaptation of the quantitative methodology employed by Dechow et al. (1995) and Roychowdhury (2006) with panel data. Firstley, the study examined the suspicion of discretion over accruals, cash flows, the cost of goods sold (COGS), and the volume of inventories held by companies. This was followed by the study of the discretion involved in the management of companies' inventories and its relationship with accounting items such as receivables, payables, tax, and accounting earnings. The results obtained confirm the fundamental assumption of the theories: when there is a conflict of interest, the manager seeks to act in a way that maximizes their well-being by exercising discretion. Discretion causes deliberate changes in the economic and financial reality of companies and, consequently, in the financial statements that support decision-making. For this reason, information asymmetry is deliberately created between the owner and other stakeholders. The results also confirm the use of inventories to introduce discretion in accruals and cash flows, allowing for the achievement of desirable net earnings and maximizing the manager's well-being.