A pandemia da desinformação: um combate a partir do desenvolvimento explícito do pensamento crítico na disciplina de filosofia no ensino secundário

Abstract

A amplificação do fenómeno da desinformação pela crescente digitalização dos meios de comunicação é percebida como uma ameaça à democracia por organizações supranacionais como a União Europeia, pelo dano que é intencionalmente provocado na tomada de decisões relativas às questões da segurança, da saúde e do ambiente. A desinformação não é, assim, apenas um problema epistémico, mas também ético e não é apenas uma questão social e política, mas também individual, pelo papel dos cidadãos na disseminação de informações falsas nas redes sociais. Os sistemas educativos são vistos como agentes relevantes no combate à desinformação ao introduzirem explicitamente nos curricula literacias transversais como a literacia dos média e a literacia digital. Em Portugal há referenciais de educação para os média com foco em capacidades, conhecimentos e atitudes. Há também orientações para a inserção dessas literacias, nomeadamente dos média, na componente curricular de Cidadania e Desenvolvimento. Faltam, porém, investigações mais centradas na forma como se cruzam, em áreas disciplinares específicas, o conhecimento e competências disciplinares, capacidades e disposições de pensamento crítico e competências das literacias dos média e digitais. Neste artigo apresentam-se três sequências de ensino e aprendizagem implementadas com uma turma na disciplina de Filosofia do ensino secundário e nas quais foram intencional e explicitamente integradas conceitos, teorias e competências filosóficas com disposições e capacidades de pensamento crítico, com vista ao desenvolvimento nos alunos de competências que os tornassem capazes de se posicionar criticamente face a desinformação que circula nos média digitais. A análises das produções dos alunos permitem-nos aferir que é possível criar situações de ensino e aprendizagem através dos quais os alunos desenvolvem e expressam esse posicionamento crítico, sendo capazes de pensar em princípios de atuação e de autorregulação. Sendo uma investigação limitada ao contexto empírico de uma turma, pode, no entanto, ser um ponto de partida para se pensar em processos de investigação mais alargados e que possam vir a resultar no estabelecimento, por exemplo, de rubricas que possam funcionar, nas diferentes disciplinas do currículo, como guias para a integração de disposições e capacidades de pensamento crítico e competências de literacia dos média e dos média.