A influência do género nos estilos de liderança e governação dos autarcas portugueses

Abstract

A narrativa convencional tende a considerar que o sexo pode influenciar os estilos de liderança autárquicos (Carli, 1999; Carli & Eagly, 2001; Eagly & Chin, 2010; Eagly & Johnson, 1990; Inal, 2017; Kathlene, 1994; dos Santos & Antunes, 2013; Tilly & Gurin, 1992). Adicionalmente, estes diferentes estilos de liderança parecem gerar diferentes formas de encarar a governação autárquica, com os autarcas a poder revelar maior ou menos propensão para a abertura à participação de atores externos e, portanto, não eleitos. A investigação existente é, contudo, limitada pela existência de estudos de caso que, naturalmente, são influenciados pelos contextos históricos e institucionais em que a governação local decorre. Esta investigação pretende contribuir para a discussão sobre a relação entre sexo, traços de liderança e estilos de governação através de uma análise ao contexto português e aos autarcas eleitos e em exercício de funções entre 2021-2023. Assim, explora-se um caso em que apesar do alargamento da abrangência da lei da paridade, na sequência da revisão da lei em 2019 – que alarga a obrigatoriedade da aplicação da lei da paridade nas listas para diferentes órgãos autárquicos (assembleia municipal e assembleia de freguesia), assim como amplia a sua abrangência (obrigando a listas compostas por 40% de cada um dos sexos, em vez dos 33% anteriormente estabelecidos). Não obstante a representação das mulheres em posições de liderança é, ainda, muito limitada – nas eleições de 2021, apenas 9% dos Presidentes de Câmara eleitos foram mulheres, muito abaixo do registado nas eleições anteriores. Neste contexto, importa compreender se o sexo é uma variável que afeta os estilos de liderança e de governação. Empiricamente, o estudo recorre a um inquérito por questionário difundido pelos autarcas atualmente eleitos (1198 presidentes e vereadores). Os dados sugerem não existir qualquer relação estatisticamente significativa entre os traços de liderança e o sexo, embora destaque que diferentes estilos de liderança têm, de facto, efeito sobre os estilos de governação.

The conventional narrative tends to consider that gender can influence municipal leadership styles (Carli, 1999; Carli & Eagly, 2001; Eagly & Chin, 2010; Eagly & Johnson, 1990; Inal, 2017; Kathlene, 1994; dos Santos & Antunes, 2013; Tilly & Gurin, 1992). In addition, these different leadership styles seem to generate different ways of looking at municipal governance, with mayors being more or less inclined to be open to the participation of external, and therefore non-elected, actors. However, existing research is limited by the existence of case studies, which are naturally influenced by the historical and institutional contexts in which local governance takes place. This research aims to contribute to the discussion on the relationship between gender, leadership traits and governance styles through an analysis of the Portuguese context and the mayors elected and in office between 2021-2023. Thus, a case is explored in which despite the extension of the scope of the parity law, following the revision of the law in 2019 - which extends the mandatory application of the parity law in lists for different municipal bodies (municipal assembly and borough assembly), as well as extending its scope (requiring lists to be composed of 40% of each gender, instead of the 33% previously established). Nevertheless, the representation of women in leadership positions is still very limited - in the 2021 elections, only 9% of the elected mayors were women, much lower than in previous elections. In this context, it is important to understand whether gender is a variable that affects leadership and governance styles. Empirically, the study uses a questionnaire survey of currently elected mayors (1198 mayors and councillors). The data suggests that there is no statistically significant relationship between leadership traits and gender, although it does highlight that different leadership styles do have an effect on governance styles.