Exposição a agentes perturbadores naturais e antropogénicos: consequências na diversidade genética de populações de dafnídeos

Abstract

A perda de diversidade genética devido a contaminação antropogénica pode aumentar o risco de extinção das populações expostas aquando sujeitas a ulteriores agentes de perturbação. O presente estudo pretendeu investigar o efeito de dois agentes perturbadores na diversidade genética de uma população laboratorial do cladócero planctónico dulçaquícola Daphnia longispina: predação (dois níveis de intensidade) e contaminação por metais. Para tal, foram seleccionados cinco clones (sensu linhagens obtidas por partenogénese) de D. longispina, com diferentes sensibilidades a concentrações letais de um efluente rico em metais. Estes clones foram expostos conjuntamente à presença isolada de cada um dos dois agentes perturbadores e à presença simultânea de ambos (predação + metais). A densidade populacional foi monitorizada ao longo de toda a experiência, e, no final, foi determinada a frequência de cada clone nos diferentes tratamentos através da análise de perfis aloenzimáticos. Verificou-se que os clones mais sensíveis desapareceram das populações após serem expostas a contaminação por metais, quer na presença de predação, quer, sobretudo, na sua ausência. Esta experiência constitui mais uma evidência de ocorrência de erosão genética em populações expostas a contaminação química. Os resultados obtidos corroboram, ainda, a “hipótese do distúrbio intermédio”: níveis intermédios de agentes perturbadores promovem a manutenção da variabilidade genética de uma população.