Evolução da zona costeira entre a Costa Nova do Prado e o Areão

Abstract

Na zona de estudo em que se insere o presente trabalho, Costa Nova do Prado - Vagueira, tem-se verificado desde há alguns anos recuos da linha de costa. Estes, tiveram como causa a construção dos molhes exteriores da embocadura da barra de Aveiro e principalmente o prolongamento do molhe norte da barra entre 1883/87. A construção e aumento destas estruturas originou problemas erosivos que atingem as praias a Sul de Aveiro, dada a interrupção da deriva litoral pelo molhe norte e devido à retenção sedimentar pelo banco exterior. Estes problemas foram ainda grandemente agravados, em virtude da redução do fornecimento sedimentar continental. Na realidade, uma das zonas mais afectadas do nosso litoral encontra-se entre a embocadura da barra de Aveiro e a Vagueira, onde o processo erosivo tem registado importância significativa. Em alguns casos, como o atrás referido, essa regressão da linha de costa, assume proporções deveras preocupantes, razão pela qual se dá um ênfase muito especial à evolução da linha de costa e às causas que lhe estão associadas. Alguns dados demonstrativos dessa recessão são: a migração do cordão litoral para o interior, a diminuição da largura das praias e a alteração dos seus perfis transversais. Para a verificação destes dados foram efectuados perfis topográficos, com vista a observar as variações morfológicas da praia emersa e medido o recuo do cordão dunar. Foi ainda determinada a granulometria dos sedimentos da praia emersa com a finalidade de a relacionar com a energia das ondas e a morfologia da praia. Ao longo do período de estudo os perfis efectuados evidenciaram a "ciclicidade" sazonal que lhes é característica. Assim, durante o Inverno marítimo, na praia emersa, ocorreram essencialmente episódios erosivos, logo com um menor volume de sedimentos e por isso mais fragilizada, sendo o perfil mais comum o de temporal com características dissipativas. Por outro lado, durante o Verão marítimo verificaram-se, predominantemente, processos de acreção, tomando-se a praia emersa mais robusta, com um perfil de calmaria com características mais reflectivas. As estações que apresentaram mais frequentemente um perfil de calmaria foram, como seria de esperar, aquelas que se situavam a barlamar de esporões e por essa razão, mais protegidas. Quando as estações possuíam perfis mais robustos, geralmente as areias existentes na zona entre marés, eram mais grosseiras. Os vários estudos efectuados e atrás mencionados, contribuíram para o objectivo final desta dissertação - a monitorização de curto prazo da zona costeira entre a Costa Nova do Prado e o Areão - ficando evidenciado o agravamento, no último ano de estudo, dos fenómenos de erosão. Na realidade, a Sul da última estrutura de engenharia costeira, verificaram-se valores de recuo elevados denotando-se a tendência da expansão erosiva de Norte para Sul. Nos locais a barlamar daquela estrutura não ocorreu praticamente recuo. Apesar da faixa litoral correspondente, estar bastante intervencionada, quando a agitação marítima é mais energética, por exemplo em situações de temporal, que ocorrem principalmente no Inverno, as populações dos dois núcleos habitacionais existentes neste troço (C. Nova do Prado e Vagueira), são geralmente ameaçadas pela acção do mar. Contudo, como o Inverno de 96/97 foi menos rigoroso, tal não se verificou ao contrário do de 95/96. Os recuos acontecem, em geral, quando a agitação marítima é mais energética e tem características de temporal. Os sedimentos resultantes do recuo dunar e da erosão das praias, contribuem para a saturação da deriva já que existe grande carência no fornecimento sedimentar original deste troço costeiro. Prevê-se que o recuo continue a aumentar para Sul, ocorrendo a destruição de grande extensão do cordão dunar frontal e consequentemente, a intensificação de galgamentos oceânicos, podendo pôr em grande perigo alguns núcleos habitacionais, pois estão localizados em zonas de elevado risco. A pressão urbana sobre as praias e dunas (edificações e arruamentos sobre o cordão dunar, destruição da vegetação) também contribuiu, pelo menos localmente, para a alteração das condições de equilíbrio morfológico e motivou a construção, quase sempre após ocorrência de situações de emergência, de obras com objectivos de protecção dos aglomerados habitacionais que se desenvolveram em locais de risco. As obras de engenharia costeira construídas, acarretam normalmente a necessidade de novas intervenções, limitando-se quase sempre a deslocar o foco do problema, induzindo erosão a sotamar, com a consequente redução da praia. Por outro lado, estas estruturas são, geralmente, só eficazes na protecção local do património edificado. Pelas razões referidas, não se deve continuar a permitir a construção em locais de grande risco, sendo necessário a sensibilização de toda a população com vista a uma correcta prevenção. A intervenção humana tem sido assim, decisiva no agravamento do desequilíbrio do regime litoral contribuindo para o seu agravamento mediante a construção de obras costeiras salientes, a extracção de areia, a remoção ou desnudamento de dunas, etc. Devido à importância das dunas na protecção das zonas costeiras, têm ocorrido na local de estudo, algumas intervenções de repovoamento vegetal com vista à conservação, reconstrução e estabilização das dunas litorais. Ainda com vista a minorar os episódios de erosão costeira têm ocorrido alguns programas de realimentação que contudo, se têm revelado ineficazes. Uma das possibilidades de redução da erosão a Sul dos molhes de Aveiro tem a ver com a realização de operações de transposição artificial de areias ("by-passing") de barlamar para sotamar destes extensos quebra-mares portuários.