Vidas de solidão: uma leitura da produção ficcional de Maria Judite de Carvalho

Abstract

O presente trabalho pretende ser uma leitura da produção ficcional de Maria Judite de Carvalho, escritora contemporânea, actualmente arredada do mercado editorial, cuja obra se encontra pouco estudada, como prova a escassa bibliografia crítica existente. O trabalho devide-se em duas partes, sendo a primeira dedicada à exposição de alguns pressupostos teóricos acerca do conto, para um melhor enquadramento da autora que se afirmou, sobretudo, enquanto contista. A segunda, que constitui a contribuição mais pessoal, será dedicada ao estudo da produção ficcional da autora, com o intuito de verificar o modo como a temática da solidão aí se desenvolve. A parte da obra em estudo é constituída por textos mais ou menos breves, contos e novelas, nas quais são narradas situações da vida, extraídas do quotidiano -fixando um caso, uma circunstância, uma angústia, um equívoco, um desespero pessoal-, quase sempre perspectivadas a partir do interior das personagens, maioritariamente, mulheres sofridas e fracassadas, espelhando uma angustiada visão do mundo feminino e levando-nos a testemunhar, essencialmente, vidas de solidão. De facto, em conjunto com outras características, a solidão, uma solidão intrínseca e profunda, afirma-se como a essência da personalidade destes seres, assumindo-se como uma fatalidade, uma marca genética, da qual não se pode fugir. Enquanto sentimento negativo, passível de provocar uma enorme pressão psicológica e uma nítida inaptidão social, a solidão é um peso temeroso que afecta todas, sem excepção, seja qual for a idade, o estado civil, a profissão ou a situação económica. A sua acção é de tal forma sufocante que as personagens se vêem forçadas a adoptar diferentes formas de evasão, desde as mais inofensivas, até às mais definitivas como o suicídio. Apesar da maioria das vidas de solidão serem casos femininos, a verdade é que na obra de Maria Judite, tal como acontece no mundo real, os homens, apesar de geralmente se encontrarem numa posição de supremacia, também são vítimas. O fracasso, a incapacidade de lutar, a falta de ambição, a solidão são traços das suas personalidades, tornando-os verdadeiros irmãos de desdita das suas semelhantes femininas. Finalmente, verificaremos que a obra de Maria Judite de Carvalho apresenta uma inequívoca dimensão trágica, que se traduz, sobretudo, numa desconcertante inexistência de um final feliz, o que espelha uma profunda falta de confiança na possibilidade de êxito da humanidade, em busca da fugitiva felicidade.

This work is intended to be a reading from Maria Judite de Carvalho’s fictional work, a contemporary writer, presently put aside from the editorial market, whose work is found to be under studied, as this is proven in the hardly existent critical bibliography. This work is divided into two parts, the first being dedicated to the exposure of some presupposed theories about the short-story, as well as a better adjustment of the author, which was maintained above all as a writer. The second, constitutes a more personal contribution, which is dedicated at the study of the fictional production of the author, with the intention of verifying the method as a theme of solitude as it unfolds. The part of the work being studied is constituted of brief texts, shortstories and novels, in which real life situations are narrated, extracted from daily events- capturing a situation, a circumstance, an anguish, a mistake, a personal despair-, nearly always being perspectives which come from within the characters, mainly women who are weak and have suffered dearly, essentially, lifes of solitude. In fact, in addition to other characteristics, solitude, an intrinsic and profound solitude, which affirms itself as an assence of the personality of these human being, assuming itself as a fatality, a genetic inheritance, that one is unable to hide from. While a negative feeling, passible to provoke an enourmous psychological pressure and a clear social inability, solitude is a fearful weight that affects everybody, without exception to the rule, no matter the age, marital status, profession or financial position. It is so powerful, so suffocating that the characters are forced to adopt different forms of escaping, from the most inoffensive to the most terminal, suicide. Although women lead the most solitude lifes, the truth is that in Maria Judite de Carvalho’s work, as it happens in real life, men, who are generally above all, are also victims. Failure, the loss of capacity to fight, lack of ambition, solitude are traces of their personalities, making men real brothers of misfortune of their female counterparts. Finally, we verify that Maria Judite de Carvalho’s work presents a manifestation of a tragic dimension, which trancends, above all, into a discordant inexistence of a happy ending, which shows a profound lack of confidence in the possibility of humanity becoming a sucess, in reaching out for a hapiness that trancends beyond our dreams.

Cette dissertation est une tentative de lecture de la fiction de Maria Judite de Carvalho, femme écrivain contemporaine, actuellement éloignée du monde éditorial, dont l’oeuvre est encore peu étudiée, ce qu’on peut constater si on considère la faible bibliographie critique existente. Ce travail est divisé en deux parties: la première dediée à l’exposition de quelques notions téoriques à propos du conte, pour mieux enquadrer la femme auteur, qui est connue principalemente en tant que auteur de contes. La deuxième partie, celle ci une contribution plus personnelle, est dediée à l’étude de la fiction de la femme auteur, pour qu’on puisse vérifier la façon dont la thématique de la solitude y se dévelloppe. De l’ensemble de son oeuvre, on étudiera les récits, plus au moins brefs, contes et nouvelles, auxquels on raconte des situations de vie, saisies du quotidien- retenant un cas, une circonstance, une angoisse, un équivoque, un désespoir personnel -, vues à partir de l’intérieur des personnages, presque tous des femmes souffrantes, ce que nous transmet une vision angoissée du monde féminin, et nous transforme en témoigns, essentiellement de vies de solitude. En effet, en ensemble avec d’autres caractéristiques, la solitude, une solitude intrinsèque et profonde, apparaît comme l’essence de la personnalité de ces êtres, presque comme si elle fût une fatalité, une marque génetique de laquelle on ne peut pas s’enfuir. Il s’agit d’une solitude ontologique et pas sociologique qui, en tant que sentiment négatif susceptible de provoquer une énorme pression psicologique et une claire inaptitude sociale, est un terrible poids qui arrive à toutes sans exception, n’importe l’âge, l’état civil, la profession où la situation économique. Son action est de telle forme insoutenable que les personnages sont contraints à prendre de différentes formes d’évasion, dès les plus inofensives jusqu’aux plus définitives, comme le suicide. Quoique la plupart des vies de solitude soit féminine, il est vrai que dans l’oeuvre de Maria Judite, telle que dans le monde réel, les hommes , malgré sa position de suprematie dans la plupart des situations, sont aussi des victimes. L’echec, l’incapacité de lutter, la manque d’ambition, la solitude ce sont des caractéristiques de leur personnalité qui leur rendent des frères de malheur de leurs équivalentes féminines. Finalement on verifiera que l’oeuvre de Maria Judite de Carvalho présente une évidente dimension tragique, dont on s’apperçoit, surtout, dû à une troublante absence d’une fin heureuse, ce qui témoigne une profonde manque de confiance aux possibilités de réussite de l’humanité, à la recherche du bonheur fugitif.