Estudo da utilização de Corophium multisetosum (Amphipoda: Corophiidae) na avaliação ecotoxicológica de sedimentos estuarinos e marinhos

Abstract

Este trabalho consistiu no estudo das condições de utilização do anfípode Corophium mulfiusetosum e na avaliação da ecotoxicidade aguda e crónica de sedimentos estuarin0s.e marinhos. A especie foi mantida em culturas laboratoriais a 15, 18 e 22OC, em fotoperíódo de 14h luz - 10h escuro, constituídas por uma fina camada de sedimento proveniente do'local de amostragem dos anfípodes e agua filtrada por lã de ,vidro, esterilizada por ultravioleta e permanentemente arèjada. Cerca de 30% da água era renovada três vezes por semana e enriquecida com alimento algal a 106céiulaslml e cerca de l!%ng de comida seca, reduzida a pó e composta por 48% de Tretamin (alimento comercial), 24% de alfalfa seca, 24% de Gérmen de trigo e 4% de .Neo-Novum. As Culturas foram mantidas em laboratório durante toda a realização deste trabalho entre, Novembro de 1994 e Agosto de 1996. A sensibilidade da espécie a um tóxico de referência (CdCI, ), foi determinada em ensaios sem sedimento e com a duração de 96 horas as três temperaturas teste (15, 18 e 22"). Verificou-se que o anfípode é bastante sensível e que o , efeito tóxico do contaminante aumenta com o aumento da temperatura obtendo-se valores de CI, (concentração de inibição que corresponde a concentração de CdCI, capaz de induzir 50% de mortalidade na população em estudo) de cerca de 0,8; 0,4 e 0,5 mgll para as temperaturas de 15, 18 e 22OC respectivamente. A sensibilidade da especie a variáveis naturais como a temperatura, a salinidade e o teor em finos, foi avaliada em ensaios com a duração de 10 e 28 dias, determinando-se as condições nas quais os ensaios de toxicidade aguda e crónica devem ser conduzidos. Cada ensaio foi sempre acompanhado por um controlo negativo, o qual simula as condições ideais na ausência de agentes perturbadores e que permite a validação dos ensaios. Nos ensaios de 10 dias determinou-se a sobrevivência de adultos quando expostos a salinidades de O - 100% correspondentes a amplitude agua doce-água do mar e a sedimentos com teor em finos (partículas de dimensões inferiores a 63p) de 2,l - 97,0%, as temperaturas de 15, 18 e 22". 0s ensaios foram conduzidos em sistema estático. Verificou-se que a espécie pode ser utilizada em ensaios de toxicidade sedimentar numa gama de salinidade de 1 - 34%q devendo no entanto evitar-se as situações extremas. Em relação ao teor em finos, os resultados obtidos indicam que o anfípode tolera toda a gama estudada, mostrando no entanto uma tendência para diminuição da sobrevivência com o aumento do teor em finos. Aparentemente, a sensibilidade da espécie é superior quando o teor em finos do sedimento é de , cerce de 50%. Nos ensaios de ciclo de vida completo, com a duração de 28 dias, deteminou-se a sensibilidade de recém-nascidos (<48horas) a uma gama de salinidades de 6,25 - 100% e de teor em finos de 5,5 -100%, a temperatura de 22OC. Os ensaios foram conduzidos em sistema de renovação de agua (-400ml), enriquecida com alimento algal a 106 célulaslml e , 10mg de comida seca, três -vezes por semana. Como parâmetros ecotoxicológicos foi medida a sobrevivência, o crescimento, o número de fêmeas grávidas por réplica e o número de recém-nascidos por fêmea grávida. Verificou-se que os ensaios de toxicidade sedimentar crónica com jovens desta idade (C48 horas), devem ser realizados preferencialmente a salinidades inferiores a 75% (-20%0) e em sedimentos com teor em finos inferior a 30%. A resposta da espécie a sedimentos naturais foi comparada com a obtida com Corophiurn volufator em ensaios de toxicidade sedimentar crónica e com Paracentfrofus liv/iA~se m ensaios de fertilização. Os resultados encontrados com estas espécies foram semelhantes aos encoritrados com Corophium mulfisetosum. Comphium rnulfl;Feosurn demonstrou ser tolerante a manutenção em culturas laboratonais e apresenta boas potencialidades para a execução de ensaios de rotina de avaliação de toxicidade sedimentar aguda e crónica.