O Trabalho Prático no ensino da Física no Ensino Básicos

Abstract

O reconhecimento da importância do papel do Trabalho Prático no ensino das ciências remonta aos finais do século XVIII. Muitos têm sido os investigadores, educadores em ciências e associações dedicadas ao ensino das ciências que têm defendido a integração plena da componente “Trabalho Prático” no ensino das ciências. Neste trabalho, advoga-se que a implementação do Trabalho Prático (formato experimental e/ou laboratorial), fundamental no ensino das ciências, e em particular no ensino da Física, deve proporcionar aos alunos a possibilidade de despertar a curiosidade acerca do mundo natural à sua volta, criar um sentimento de admiração, entusiasmo e interesse real pela Ciência, adquirir uma compreensão geral alargada das ideias importantes e das estruturas explicativas da Ciência, reconhecer procedimentos da investigação científica permitindo alguma confiança na abordagem de questões tecnológicas, questionar o comportamento humano perante o mundo, bem como reconhecer o impacto da Ciência e da Tecnologia no nosso ambiente e na nossa cultura em geral. Reconhecendo que (re)conceptualizações de conhecimento em Ciências em geral e em Física em particular, podem/devem ser enformadas por práticas adequadas de Trabalho Prático, este estudo pretendeu: ? investigar em que medida os Programas do Ensino Básico – componente de Física – orientam para Trabalho Prático investigativo; ? identificar percepções de alguns professores sobre trabalho prático; ? conhecer práticas de sala de aula de trabalho prático que os professores envolvidos no estudo realizam; ? investigar em que medida é que as imagens que os alunos constróem sobre a Natureza da Ciência é influenciada pelos modelos de ensino e aprendizagem de trabalho prático que os professores que integraram o estudo realizam nas suas práticas. Assim, para além de se ter procurado conhecer o que os professores pensavam, procurou-se também compreender o que eles faziam e como o faziam à luz da Filosofia subjacente na concepção dos currículos da disciplina de Ciências Físico-Químicas no 3º Ciclo do Ensino Básico. A confrontação das suas percepções com as suas práticas, permitiu identificar inconsistências e incoerências decorrentes, por ventura, de carências ao nível de formação. O estudo da natureza naturalista incluiu seis etapas com objectivos diversos mas complementares. Numa primeira etapa procedeu-se à explicitação do problema definido tendo em conta alguns contactos formais e informais efectuados pelo investigador, a sua experiência de docência bem como os resultados de uma revisão bibliográfica. Na segunda etapa procedeu-se a uma análise dos Programas de Física do Ensino Básico com o objectivo de identificar as orientações emanadas sobre a utilização do trabalho prático. A análise foi feita com um instrumento construído para esse fim. Na terceira etapa realizaram-se entrevistas semiestruturadas com quinze professores de Ciências Físico-Químicas do Ensino Básico e Secundário pertencentes à região Centro do País com o objectivo de identificar as percepções relativamente ao papel da componente prática no ensino da Física. Procedeuse depois à análise dos dados obtidos. Com base em critérios previamente estabelecidos foi seleccionada uma amostra de quatro professores para integrarem um Estudo de Caso na quarta etapa. Esta consistiu na observação e análise de oito aulas de natureza prática realizadas pelos quatro professores anteriormente seleccionados. Na quinta etapa entrevistaram-se doze alunos destes quatro docentes com o objectivo de investigar qual é a influência das práticas destes professores nas concepções que os seus alunos constróem sobre a Natureza da Ciência. Seguidamente analisaram-se os dados obtidos. Finalmente na sexta etapa realizou-se uma análise cruzada dos dados obtidos nas etapas anteriores donde emergiram algumas conclusões. Na globalidade, sobre a articulação ou não articulação existente entre as concepções e as práticas relativas à implementação do Trabalho Prático, os resultados deste estudo, indicam uma orientação dominante para concepções empiristas por parte dos professores que se fazem reflectir nas estratégias de ensino e nas propostas de actividades para os alunos, de cariz acentuadamente tradicional. Dos dados obtidos da quinta etapa deste estudo pode concluir-se que as práticas destes professores influenciam erradamente não só as imagens que os alunos constróem sobre a Natureza da Ciência, como dá uma imagem inadequada acerca da construção do conhecimento científico. Apesar de não ser fácil afirmar o que torna um Programa interessante aos olhos dos alunos é a motivação para a realização do Trabalho Prático que passa pela inclusão de temas relacionados com as suas necessidades pessoais e sociais. Em traços gerais, os resultados obtidos permitiram problematizar a implementação do Trabalho Prático qualquer que seja o seu formato. Os resultados apontam para a necessidade premente de sistematizar estudos acerca do Trabalho Prático, de conceber e desenvolver propostas de formação de professores que os habilitem a uma implementação desta componente que permita aprendizagens significativas dos jovens de forma a influenciar imagens congruentes com a “Filosofia” subjacente à criação dos Programas no que respeita à Natureza da Ciência e conhecimento científico.

The importance of Practical Work for the teaching of science has been recognised since the end of the 18th century, and many researchers, science teachers and associations for the teaching of science have advocated the full integration of Practical Work into science lessons. In this paper, it is argued that Practical Work of an experimental or laboratorial nature, so important for the teaching of science, particularly physics, should aim to arouse students’ curiosity about the natural world around them; foster a sense of wonder, enthusiasm and genuine interest in science; help students to acquire a broad general knowledge about the important ideas and theories of science; and enable them to recognise research procedures (thus increasing their confidence about technological issues), question human behaviour towards the world, and understand the impact of science and technology on our environment and culture in general. Recognising that (re) conceptualisations of knowledge in general science and in physics in particular may and should be informed by adequate practices on the level of Practical Work, the aims of this study were to: ? determine the extent to which physics syllabuses at primary and secondary levels are oriented towards investigative practical work; ? identify the perceptions that some teachers hold about practical work; ? observe the classroom practices used in practical lessons by the teachers involved in the study; ? investigate the extent to which students’ conceptions of science are influenced by the teaching models used by the teachers involved in this study use in their practical lessons. In addition to learning more about teachers’ opinions, we also sought to understand what they do and how, in the light of the philosophy underlying the Physical and Chemical Sciences syllabus in the third, fourth and fifth years of secondary school. By comparing teachers’ ideas with their classroom practices, we were able to identify inconsistencies, resulting perhaps from deficiencies in their training. The study, which was naturalistic in nature, consisted of six stages with different but complementary objectives. The first stage was the explicit definition of the research question in the light of formal and informal contacts made by the researcher, his experience in teaching and the results of a bibliographic survey. The second stage involved the analysis of physics syllabuses used throughout the nine years of compulsory schooling in order to identify the orientation provided as regards the use of practical work; this analysis was undertaken using a tool constructed for the purpose.